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Full text of "Revista internacional do espiritismo"

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Princeton  Theological  Seminary  Library 


https://archive.org/details/revistainternaci2310unse 


40  XXIII — Brasil— E.  S.  Paulo— Matao,  15  de  Novembro  de  1947 — N.  10 


REVISTA  MENSAL  DE  ESTUDOS  ANlMICOS  E  ESPÍRITAS 

■  -  .  . 


FUNDADOR  : 

CA1RBAR  SCHUTEL 


SUMÁRIO 


iLSEMINARY 


Em  torno  da  Morte . . 

A  Vidente  de  Prevorst . 

A  Obra  de  Geley . 

■  -  -  w  '7 

Onde  Ides,  Mocidade  Louca  do  Bra¬ 
sil  ?  .  . 

Os  Sinais  dos  Tempos . 

Mesas  e  Cabeças  Girantes  .... 

Fenômenos  de  Materialização  .  .  . 

Vidas  Sucessivas . 

Livros  e  Autorès . 

Crônica  Estrangeira . 

i 

Espiritismo  no  Brasil . 


Recfação 

Dr.  Francisco  K/õrs  Werneck 
Ismael  Gomes  Braga 

\ 

Leopoldo  Machado 
J.  B.  Chagas 
Carlos  Imbassahy 
Amadeu  Santos 
Djalma  Farias 
Leopoldo  Machado 
Redação 
Redação 


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4  Natal  dos  Pobres  fc. 


Prezado  Sr. 


Paz  em  Jesus. 

Como  de  costume,  o  Centro  Espírita  «Aman¬ 
tes  da  Pobreza»  realizará  neste  ano  o  NATAL  DOS 
POBRES,  no  dia  em  que  se  comemora  a  maior  data 
do  Cristianismo,  25  de  Dezembro,  que  relembra  o  nas¬ 
cimento  de  Jesus. 

A  cristandade  prepara-se  para  festejar  nesse 
dia  o  magno  acontecimento,  sem  medir  gastos.  Mas  os 
pobres  que  muitas  vezes  não  têm  uma  côdea  de  pão 
e  uma  xicara  de  café,  não  o  podem  fazer  ;  daí  porque 
devemos  lhes  prestar  o  nosso  auxílio  fraternal,  para 
que  todos  indistintamente  tenham,  de  facto,  um  NA¬ 
TAL  FELIZ.  E  cumprindo  o  maior  mandamento,  que 
é  o  amor  ao  próximo,  Jesus,  que  acompanha  sempre 
os  nossos  passos  e  mede  as  nossas  ações,  nos  recom¬ 
pensará  com  o  nos  proporcionar  paz,  saúde,  alegria  e 
prosperidades. 

Nesse  sentido,  a  Comissão  abaixo  assinada, 
vem  solicitar  do  coração  magnânimo  de  Y.  S.,  um  óbu- 
lo,  que  póde  ser  em  dinheiro,  gêneros  alimentícios,  rou¬ 
pas,  mesmo  usadas,  etc. 

Certos  de  sua  preciosa  atenção,  almejamos-lhe 
um  Natal  Feliz  e  um  Ano  Novo  cheio  de  prosperidades. 


Matão,  10  de  Outubro  de  1947. 


A  Comissão  : 


D.  Chiquita  Fonseca 

D.  Maria  Casanova 

D.  Antcninha  Perche  Campeio 

D.  Elvira  Prado 

Zelia  S.  Perche 

Jenny  Perche 

Valéria  Dias  de  Lima 

Clotilde  Ferreira 

Jocelina  Dias  de  Lima 

Leonor  Cruz 


Isabel  Perche 
Doris  Molinari 
Carmen  Torres 
Miriam  Perche 
Cleide  Perche 
Manoela  Torres 
Edméa  Costa 
Edna  Gonçalves 
Catarina  Bonfoqui 


©}(S 


S)fâ) 


ANO  XXIII  —  E.  S.  Paulo  —  Matáo,  15  do  Novembro  do  1947  —  NUM.  10 

Renúta  Internacional 

do  Espiritismo 

REVISTA  MENSAL  DE  ESTUDOS  ANÍMICOS  E  ESPÍRITAS 

fundador  :  Cairbar  Schutel 

DIRETOR  :  José  da  Costa  Filho  X-  REDATOR  :  A,  Watson  Campeio 
GERENTE  :  Anlonia  Perche  S.  Campeio 

Redação:  Av.  28  do  Agosto,  n.  301  Oficinas:  Rua  Rui  Barbosa,  n.  673 


&(9 


G)vS) 


EM  TOENO  DA  MOETE 


«PESAR  de  ser  a  maioria 
k  dos  homens  materialista 
ou  ateista,  não  crendo  em 
£4  Deus  e  nem  na  sobrevi- 
vencia  individual,  não  acre- 
ditamos  que  eles,  em  cer¬ 
tos  momentos  da  vida, 
não  tenham  pensado,  embora  ligeiramen¬ 
te,  sôbre  a  morte,  êsse  espantalho  pinta¬ 
do  pela  ignorância  humana. 

A  morte  é  a  cousa  mais  certa  dês- 
te  mundo,  pois  todos  sabemos  que  mais 
hoje  ou  mais  amanhã  temos  que  empre¬ 
ender  essa  irrevogável  viágem.  Para  os 
incientes,  ou  seja,  para  aqueles  que  limi¬ 
taram  as  suas  esperanças  ao  restrito  pla¬ 
no  terreno,  morrer  significa  o  aniquila¬ 
mento,  o  desaparecimento,  enfim,  a  ex¬ 
tinção  total  do  indivíduo,  porque  estão 
convencidos  de  que  o  indivíduo  é  somen¬ 
te  corpo,  e  nada  mais.  Para  os  espiritua¬ 
listas  morrer  quer  dizer  — renascer  na  ver¬ 
dadeira  vida,  porisso  é  que  um  grande 
filósofo  afirmou  que  a  morte  é  a  porta  da 
vida. 

O  desespero,  as  lágrimas  copiosas, 
as  imprecações  da  creatura  que  vê  mor¬ 
rer  um  ente  querido  são  frutos  da  des¬ 
crença,  da  falta  de  fé  nos  desígnios  de 
Deus,  da  falta  de  conhecimentos  relativos 
às  cousas  do  espírito  antes  e  depois  da 
sua  passagem  para  o  mundo  espiritual. 
As  creaturas  que  acreditam  na  sobrevi¬ 
vência  individual  sabem  que  os  seus  mor¬ 
tos  queridos  continuam  a  viver  e  que  as 


esperam  para  o  grande  festim  espiritual  ; 
que  as  acompanham  e  lhes  prestam  todo 
o  auxílio  possível,  guiando-as  da  melhor 
maneira  nas  suas  indecisões,  estimulando- 
as  ao  trabalho  e  amparando-as  nas  suas 
fraquezas. 

As  religiões  mundanas,  com  os  seus 
dogmas,  sacramentos,  cultos  externos  e 
missas  a  granel  não  conseguem  confortar 
aqueles  que  vêem  passar  para  o  mundo 
dos  espíritos  os  seus  entes  e  amigos,  pois 
as  lágrimas  continuam  a  correr-lhes  pelas 
faces  e  a  esperança  se  detera  ante  o  ter¬ 
rível  enigma  que  é  a  morte: 

Mas,  com  o  advento  da  doutrina  es¬ 
pírita,  o  véu  que  encobria  a  Verdade 
rasgou-se  de  cima  a  baixo  e  todos  podem 

ver  agora  os  esplendorosos  horizontes  da 
vida  eterna,  com  os  testemunhos  frisantes, 
insofismáveis  da  sobrevivência  individual 
acendendo  em  cada  coração  a  lâmpada 
da  verdadeira  fé  e  da  esperança  que  não 
fenece  e  colocando  em  cada  cérebro  a 
bússola  da  sabedoria  que  orienta  com  se¬ 
gurança  na  intérmina  caminhada  para  a 
Perfeição. 

Passamos  a  transcrever  de  «Estudos 
Psíquicos*,  de  Lisboa,  o  seguinte  caso 
comprobativo  da  imortalidade  da  alma, 
para  que  os  descrentes  encontrem  no 
mesmo  ao  menos  uma  fagulha  que  lhes 
chame  a  atenção  para  as  cousas  relativas 
ao  espírito. 


-  228 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


Uma  Prova  da  Sobrevivência 

O  Psychic  News  de  9  de  Outubro 
de  1943  publicou  interessante  relato  acer¬ 
ca  de  provas  da  sobrevivência  fornecidas 
pelo  médium  F.  W.  Martin,  pai  de  um 
piloto  da  R.  A.  F.  que  falecera  no  de¬ 
sastre  de  um  avião  «Sunderland»,  quan¬ 
do  êste  aparelho  em  1941  tentava  atra¬ 
vessar  o  oceano. 

Martin  vive  em  Morton,  próximo  de 
Swansea,  e  obteve  no  Instituto  de  Inves¬ 
tigações  Psíquicas  de  Londres  o  que  ele 
apelida  de  prova  assombrosa.  No  dia  an¬ 
terior  tinha  estado  junto  do  médium  de¬ 
senhador  Frank  Leah,  a  quem  nos  temos 
referido  muitas  vezes,  e  observou  que  êste 
último  desenhara  um  retrato  do  aviador 
«morto»,  cujo  perfil  era  perfeitamente 
exáto,  tanto  na  forma,  como  na  dimensão. 

Desde  então,  Martin  tem  recebido 
numerosas  provas  de  sobrevivência  do  fi¬ 
lho,  que  se  comunica  regularmente. 

Segue-se  o  relato  da  prova  dada  pe¬ 
lo  jovem  aviador  Jack,  que  utiliza  o  calão 
empregado  na  R.  A.  F.  e  demonstra  o 
orgulho  próprio  de  um  jovem,  quando  se 
manifesta  : 

—  Após  a  queda  do  avião,  achei-me 
na  água  muito  sujo  e  cheio  de  dores,  por¬ 
que  fôra  queimado  pela  gasolina,  que  se 
incendiára,  na  altura  em  que  os  tanques 
foram  atingidos.  Só  senti  as  dores,  ao 
verificar  que  não  podia  nadar.  O  pai  sa¬ 
be  que  eu  era  bom  nadador.  Se  lhe  ti¬ 
vesse  sucedido  o  mesmo,  n|ío  faria  mais 
do  que  eu. 

«Quando  mergulhei,  senti  os  pul¬ 
mões  a  arder  e  perdi  os  sentidos.  Ao  des¬ 
pertar,  vi  meu  avô  ao  pé  de  mim. 

«Eu  não  compreendo  isto  —  pensei 
comigo  mesmo.  —  Afinal,  estou  morto  ou 
não  ?>  O  avô,  porém,  estendeu-me  as 
mãos  e  disse : 

—  «Jackie,  estou  aqui  para  te  con¬ 
duzir  à  tua  nova  vida,  porque  tu  não 
morreste.  Bem  ao  contrário,  estás  mais 
vivo  do  que  nunca.  Não  te  lamentes.  Ago¬ 
ra  estás  deste  lado  da  vida.  Por-te-ei  ao 
facto  de  tudo  isto.  Lembras-te  do  avô, 
que  te  levava  a  passear,  quando  eras  pe¬ 
quenino  ? 

—  «Certamente,  —  respondi  — ;  mas 
como  se  explica  o  facto  de  o  estar  a  ver 
de  novo  ?  Afinal,  não  estou  morto.  Onde 
estou  então?  Afoguei-me  há  minutos  na 
desastrosa  queda  do  «Sunderland».  Não 
posso  estar  vivo.  Que  diz  a  isto,  avô  ? 


—  «Estás  vivo,  de  facto.  Depois  te 
explicarei  isso.  Agora  temos  de  sair  deste 
ambiente,  demasiado  terrestre  para  ti. 

«Em  seguida,  olhei  para  o  meu  cor¬ 
po  físico  que  se  encontrava  debaixo  de 
água,  e  pude  vê-lo  como  se  estivesse  à 
superfície. 

«Partimos  daquêle  local  e  começᬠ
mos  a  flutuar  no  espaço.  Por  fim,  chegᬠ
mos  a  um  lugar  semelhante  a  um  salão 
de  concertos,  que  depois  notei  ser  o  Sa¬ 
lão  de  Repouso,  que  nos  acolhe,  quando 
desencarnamos.  Ao  chegar  ali,  o  avô  man¬ 
dou-me  estender  num  divã;  e  passado  al¬ 
gum  tempo  acercou-se  de  mim  um  ho¬ 
mem  parecido  com  um  monge,  chamado 
Irmão  Goodwin,  dizendo  que  era  um  «guia». 

«Não  compreendi  o  significado  do 
termo  «guia».  Entretanto,  foi-me  dizendo 
que  eu  também  seria  guia,  isto  é,  que 
deveria  ajudar  a  esclarecer  outros  espíri¬ 
tos  nas  condições  em  que  o  avô  me  en¬ 
controu,  no  intuito  de  os  familiarizar  com 
o  mundo  espiritual.  Assim,  devia  pôr-me 
em  comunicação  com  o  pai,  escrevendo  e 
informando-o  acerca  desta  vida. 

«Não  compreendi  de  que  diabo  es¬ 
tava  êle  a  falar.  Contudo,  comecei  a  mer¬ 
gulhar  em  sono  profundo,  até  que  acor¬ 
dei  num  grande  salão  ou  templo,  cheio 
de  luz  estranha,  de  cores  maravilhosas, 
em  nada  semelhantes  às  cores  terrestres  e 
que  mudavam  de  cambiante  a  todo  mo¬ 
mento. 

«Observei  até  enorme  multidão  de 
homens,  mulheres  e  crianças,  de  todas  as 
raças.  E  quando  me  estendi  numa  espé¬ 
cie  de  canapé,  ouvi  música  de  centenas 
de  instrumentos,  diferente  da  que  tinha 
ouvido  na  terra.  As  vozes  da  multidão 
elevavam-se  em  côro,  enquanto  as  cores 
variavam  constantemente  o  seu  brilho. 

«Era,  de  facto,  uma  cena  inesque¬ 
cível.  O  ar  era  vivo,  isto  é,  impregnado 
de  fluído  vital  que  penetrava  suavemente 
o  meu  corpo  espiritual  ;  e  comecei  a  sen¬ 
tir  a  consciência  do  meu  novo  estado. 
Parecia  reviver.  Daqui  em  diante  tornou- 
se-me  desnecessário  perguntar  o  motivo 
daquela  cerimônia. 

«Fiquei  sem  saber  o  que  havia  de 
fazer,  quando  toda  aquela  gente  se  levan¬ 
tou,  sendo  então  levado  pelos  médicos 
para  outro  edifício. 

«Ao  abandonar  o  salão  de  Repou¬ 
so,  entrei  numa  bela  casa  cercada  de  flo¬ 
res  e  arbustos,  diferentes  de  tudo  quanto 

vira. 

/ 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


—  229  — 


«O  edifício  a  que  me  refiro  era 
construído  de  alabastro  e  pedra,  de  cores 
variegadas.  Ali  se  reuniam  muitos  estu¬ 
dantes  da  R.  A.  F.,  trabalhando  em  vᬠ
rias  coisas. 

«Fui  colocado  na  secção  de  enge¬ 
nharia,  pois  quando  estive  na  terra  dedi¬ 
quei-me  a  esse  mister.  Aqui,  continuei  a 
lidar  com  máquinas  de  toda  a  espécie. 


«Talvez  esta  história  lhe  pareça 
idiota,  mas  não  é.  A’  excepção  dos  indi¬ 
víduos,  esta  vida  é  semelhante  à  vida  ter¬ 
rena.  Claro  que  não  dormimos,  visto  ser 
desnecessário ;  mas  podemos  descançar, 
se  tal  nos  aprouver.  Estendemo-nos  em 
fofos  leitos  de  erva,  para  recuperar  ener¬ 
gias.  Nesta  mansão,  a  vida  resume-se  em 
amar  todos  os  nossos  semelhantes», 


F)  Uiòente  òe  Preuorst 


PRIMEIRA  PARTE 
A  Vida  e  as  Faculdades  da  Vidente 


CAPÍTULO  X  I 

Visão  pela  cavidade  epigástríca 

Os  fenômenos  seguintes  lem¬ 
bram  a  faculdade  que  têm  os  sonâm¬ 
bulos  de  lêr  o  que  se  coloca  sôbre  o 
seu  estômago  ou  de  tomar  conheci¬ 
mento  dele  só  pelo  tato.  Dei  à  Sra. 
Hduffe  dois  pedaços  de  papel,  cuida¬ 
dosamente  dobrados.  Num  havia  es¬ 
crito  em  segredo:  «Deus  existe»  e  no 
outro  «Deus  não  existe».  Coloquei- os 
em  sua  mão  esquerda, ,  quando  intei¬ 
ramente  desperta  e  perguntei  lhe  se 
notava  alguma  diferença  entre  eles. 
Após  certo  tempo,  entregou- me  o  pri¬ 
meiro  deles,  dizendo-me :  «Este  me 
produziu  certa  sensação ;  o  outro  me 
deu  uma  impressão  de  vácuo».  Re¬ 
peti  quatro  vezes  a  experiência  e  ca¬ 
da  vez  com  o  mesmo  resultado.  ' 

Escrevi  então  num  pedaço  de 
papel:  «Há  espectros*  e  no  outro 
«Não  há  espectros».  Ela  colocou  o 
primeiro  sôbre  a  cavidade  epigástri- 
ca,  segurou  o  outro  numa  das  mãos 
e  leu  o  que  estava  escrito  em  am¬ 
bos.  Escrevi  então  «Vistes  B.».  Quan¬ 
do  ela  o  colocou  no  mesmo  lugar, 
disse  que  isso  lhe  causava  aborreci¬ 
mento.  Quando  mais  tarde  leu  o  con¬ 
teúdo  do  papel,  não  poude  compre¬ 
ender  tal  efeito,  embora  tivesse  sido 
renovada  a  experiência,  com  o  mes¬ 
mo  resultado. 

Alguns  anos  depois,  quando  co¬ 
loquei  em  sua  mão  uma  carta  fecha¬ 
da,  da  referida  pessoa,  o  resuliado 


Pelo  Dr.  Justino  Kerner 

Tradutor:  T)r.  Francisco  Klòrs  Werneck 


foi  ainda  o  mesmo,  sem  que  ela  ti¬ 
vesse  a  menor  idéia  do  que  pudesse 
isso  ser.  A  presença  dessa  pessoa 
produzia  efeitos  idênticos.  Certo  nú¬ 
mero  de  experiências  interessantes, 
feitas  no  mesmo  sentido,  me  deu  a 
convicção  de  que  os  escritos  e  os  de¬ 
senhos  colocados  na  cavidade  do  seu 
estômago  produziam  efeitos  apreciᬠ
veis,  variando  em  sua  natureza.. 

Boas  notícias  de  seu  filho  fa¬ 
ziam-na  sorrir,  ao  passo  que  más  a 
entristeciam.  O  nome  de  uma  pessoa 
não  amiga  despertava  cólera  nela;  o 
de  Napoleão  Bonaparte  sugeria  idéias 
marciais  e  ela  cantava  u’a  marcha. 

Algo  estranhos  que  sejam  tais 
resultados,  experiências  repetidas  só 
serviram  para  confirmá-los,  e,  ainda 
que  seja  dificil  crêr-se  neles,  são,  to¬ 
davia,  fatos  positivos. 

Como  acontece  comurnente  com 
os  sonâmbulos,  tinha  a  Sra.  Hauffe  a 
faculdade  de  distinguir  nitidamente  os 
orgãos  internos  do  corpo,  sobretudo 
quando  estavam  doentes.  Via  perfei¬ 
tamente  a  direção  dos  nervos  e  po¬ 
dia  descrevê-los  anatomicamente. 

Uma  varinha  magnética,  com 
uma  ponta  de  ferro,  colocada  dianle 
de  sua  vista  direita  e  dirigida  para 
um  objeto  afastado,  desenvolvia  seu 
poder  de  modo  extraordinário ;  assim 
as  menores  eslrêlas  lhe  pareciam  tão 
grandes  quanto  a  lua  e  a  lua  pare¬ 
cia  tão  grande  que  ela  podia  vêr  cla¬ 
ramente  suas  manchas.  Ela,  porém, 
nunca  poude  vêr  senão  do  lado  di- 


—  230 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


reito,  pois  o  esquerdo  ficava  invisí¬ 
vel.  Ela  dizia  que  os  habitantes  do 
lado  esquerdo  da  lua  estavam  todos 
absortos  em  suas  construções  e  não 
eram  tão  felizes  como  os  do  lado  di¬ 
reito.  Eu  lhe  disse  que  pensava  que 
isso  não  passasse  de  um  sonho,  po¬ 
rém  ela  protestava,  acrescentando 
que  o  seu  estado  sonambúlico  era 
um  estado  de  vigilia  perfeita.  E’  de 
se  lamentar  que  tais  experiências  te¬ 
nham  sido  feitas  numa  época  em  que 
a  vidente  era  incapaz  de  deixar  seu 
leito  e  não  podia  entregar  se  a  uma 
observação  mais  prolongada  dos  cor¬ 
pos  celestes. 

Quando  ela  encontrava  uma  pes¬ 
soa  que  havia  perdido  um  membro, 
continuava  a  vêr  o  membro  ainda  li¬ 
gado  ao  corpo,  isto  é,  continuava  a 
divisar  a  fôrma  do  membro,  produzi¬ 


da  pela  projeção  do  fluido  nervoso, 
do  mesmo  modo  que  via  as  fôrmas 
fluídicas  dos  mortos. 

Êsse  interessante  fenômeno  per¬ 
mite-nos  explicar  as  sensações  expe¬ 
rimentadas  pelas  pessoas  que  sentem 
ainda  o  membro  que  foi  amputado. 
A  invisível  fôrma  fluídica  do  membro 
ainda  está  em  relação  de  continuida¬ 
de  com  o  corpo  vjsivel  e  isso  nos 
prova  bastamente  que  depois  da  des¬ 
truição  do  envoltório  visivel,  a  forma 
é  conservada  pelo  fluido  nervoso.  O 
velho  teósofo  Oettinger  já  dissera  :  «O 
envoltório  terrestre  fica  no  túmulo,  ao 
passo  que  a  parte  essencial  e  volátil 
sobe  como  um  espírito  de  forma  per¬ 
feita,  mas  privado  de  matéria». 

À  seguir,  Cap.  XII  —  O  espírito 
protetor. 


A  OBRA  DE  GELEY 

—  ui  — 


Ismael  G.  Braga 


A  individualidade  psicológica, 
na  ciência  clássica  materialista,  de¬ 
pende  do  paralelismo  psico-fisiológi- 
co :  cada  região  do  cérebro  corres¬ 
ponde  a  uma  faculdade,  e,  uma  vez 
prejudicada  aquela  região  do  cére¬ 
bro,  cessa  a  faculdade;  por  exemplo, 
uma  região  rege  a  linguagem  e,  se 
for  destruída,  o  homem  perde  a  fala. 
Essas  convicções  duraram  muito  tem 
po,  mas  numerosas  observações  re¬ 
centes  vieram  arruiná-las. 

Foram  realizadas  amputações 
parciais  do  cérebro  sem  a  corres¬ 
pondente  alteração  psíquica :  cére¬ 
bros  inteiramente  destruídos  por  um 
tumor  não  prejudicaram  as  faculda¬ 
des  psíquicas  do  enfermo.  Estas  ob¬ 
servações,  feitas  por  médicos  ilustres 
de  diversos  países,  lançaram  por  ter¬ 
ra  o  paralelismo  psico- fisiológico  e 
demonstraram  que  a  ciência  materia¬ 
lista  não  pode  explicar  satisfatoria¬ 
mente  a  individualidade  psicológica. 
E’  necessário  recorrer  à  existência  de 
um  dínamo-psiquismo  independente 
do  cérebro,  ou  seja,  em  nossa  lin¬ 
guagem  espírita,  à  existência  de  um 


Espírito  que  pode  pensar  indepen¬ 
dentemente  do  cérebro. 

Depois  de  demonstrar  exaustiva¬ 
mente  essa  incapacidade  da  ciência 
clássica  para  explicar  os  fenômenos 
psicológicos,  Geley  passa  a  tratar  da 
psicologia  subconsciente.  Está  verifi¬ 
cado,  e  já  se  tornou  domínio  pacífi¬ 
co,  quâ  o  Inconsciente  exerce  papel 
primordial  no  instinto,  na  psicologia 
inata,  no  psiquismo  latente  e  no  gê¬ 
nio.  Esse  subconsciente  inato  é,  por 
vezes,  de  influência  soberana  e  im¬ 
perativa  na  vida  do  indivíduo.  Não  é 
necessário  citar  exemplos,  porque  sob 
os  nomes  de  índole,  ou  de  pendores, 
ou  de  genialidade,  todos  nós  conhe¬ 
cemos  numerosos  exemplos.  Existe, 
pois,  um  psiquismo  oculto  a  que  Ge- 
ley  dá  o  nome  de  criptopsiquia,  mas 
além  da  criptopsiquia  existe  uma  me¬ 
mória  subconsciente  que  recebe  e  a- 
cumula  tudo  quanto  nos  passa  pelos 
sentidos.  Para  essa  memória  hão  e- 
xiste  o  esquecimento ;  ela  conserva 
tudo  quanto  julgávamos  olvidado  pa¬ 
ra  sempre,  e  em  certas  situações  es¬ 
peciais  traz  tudo  de  novo  à  memória 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


—  231 


consciente.  Por  vêzes  essa  ressurrei¬ 
ção  ocorre  em  momentos  de  perigo 
brusco  de  morte  por  acidente.  Há  ca¬ 
sos  em  que  o  indivíduo  recorda  num 
instante  toda  a  sua  vida  em  todas  as 
minúcias,  todos  os  seus  pensamentos 
mais  remotos  e  esquecidos.  À  essa 
memória  subconsciente,  Ge.Iey  dá  o 
nome  de  criptomnesia.  Onde  se  con¬ 
serva  ela,  quando  o  cérebro  todo  já 
se  refez  pela  sucessão  das  molécu¬ 
las,  e  tudo  parecia  morto  para  sem¬ 
pre?  Impossível  compreendê-lo  á  luz 
da  ciência  materialista,  mas  facílimo 
de  explicação  para  a  ciência  espírita, 
pois  que  o  Espírito,  e  não  o  corpo,  é 
a  personalidade  pensante. 

A  seguir  o  nosso  Autor  estuda 
as  alterações  da  personalidade.  São 
dois  problemas  já  ricamente  regista¬ 
do  pelos  cientistas : 

l.°  O  problema  da  diferença 
psicológica  em  relação  à  persona¬ 
lidade  normal :  diferença  não  só  de 
direção,  de  vontade,  mas  também 
de  caráler  geral,  de  lendências,  de 
faculdades,  de  conhecimentos ;  di¬ 
ferenças  ião  radicais,  afgumas  vê¬ 
zes,  que  implicam,  enlre  o  « eu » 
normal  e  a  personalidade  segunda, 
oposição  completa  e  hostil. 

•  2.°  O  pioblema  das  capacida¬ 
des  supranormais  que  vêm  unidas 
frequentemente  às  manifestações  da 
personalidade  ou  personalidades  se¬ 
gundas». 

Poderíamos  acrescentar,  por  e- 
xemplo,  diante  de  Francisco  Cândido 
Xavier,  que  estas  capacidades  supra¬ 
normais  aparecem  em  centenas"  de 
«personalidades  segundas». 

Mas  o  que  é  verdade,  fóra  de 


dúvida,  é  que  a  ciência  materialista 
clássica  não  pode  explicar  nenhum 
dos  dois  problemas. 

Aqui  passa  Geley  a  tratar  do 
«subconsciente  chamado  supranor- 
mal»  e  diz  logo  que  «a  psicologia 
supranormal  é  um  mundo,  cuja  ex¬ 
ploração  apenas  se  inicia». 

Nesse  capítulo  alista  êle  :  Leitu¬ 
ra  do  pensamento;  Sugestão  mental; 
Telepatia;  Lucidez,  etc.  Pela  telepa¬ 
tia  póde  se  ver  à  distância,  ver  num 
fuluro  próximo  ou  num  passado  pró¬ 
ximo.  Pela  lucidez,  em  suas  infinitas 
modalidades,  o  indivíduo  obtém  co¬ 
nhecimento  sem  o  concurso  dos  sen¬ 
tidos,  por  vêzes  a  grande  distância, 
outras  vêzes  no  futuro.  Por  vêzes  a 
lucidez  alcança  acontecimentos  futu¬ 
ros  e  os  descreve  em  todas  as  minú¬ 
cias.  Um  só  exemplo  nos  basta  :  Em 
lôóô  Sonrel  teve  a  visão  minuciosa 
da  guerra  entre  a  França  e  a  Alema¬ 
nha  em  1870-71 :  o  desastre  das  ar¬ 
mas  francesas  em  Sédan,  o  sítio  de 
Paris,  a  Comuna;  a  guerra  de  1914- 
18;  mas  tudo  relatou  como  no  pre¬ 
sente,  como  estando  assistindo  na¬ 
quele  momento  aos  acontecimentos, 
como  pormenores  precisos  e  verí¬ 
dicos. 

Como  explicar  todos  êsses  fe¬ 
nômenos  da  psicologia  supranormal 
pela  ciência  materialista? 

Só  admitindo  a  existência  do  Es¬ 
pírito  com  faculdade  de  comunicar- 
se  com  outros  Espíritos  mais  eleva¬ 
dos  do  que  os  habitantes  da  Terra, 
podemos  começar  a  compreender  tais 
fenômenos,  ou,  pelo  menos,  começar 
a  perceber  que  «existe  muita  coisa 
além  da  nossa  vã  filosofia». 


Quando  as  crenças  espíritas  se  houverem  vulgarisado,  quando  esti¬ 
verem  aceitas  pelas  massas  humanas  e,  a  julgar  pela  rapidez  com  que 
se  propagam,  êsse  tempo  não  vem  longe,  com  elas  se  dará  o  que  tem 
acontecido  a  Iodas  as  idéias  novas  que  hão  encontrado  oposição :  os  sᬠ
bios  se  renderão  a  evidência.  Até  então  será  intempestivo  desviá-los  de 
seus  trabalhos  especiais,  para  obriga  los  a  se  ocuparem  cpm  um  assunto 
estranho,  que  não  lhes  está  nem  nas  atribuições,  nem  no  programa.  En¬ 
quanto  isso  não  se  verifica,  os  que,  sem  estado  prévio  e  aprofundado  da 
matéria,  se  pronunciam  pela  negativa  e  escarnecem  de  quem  não  lhes 
subscreve  o  conceito,  esquecem  que  o  mesmo  se  deu  com  a  maior  par¬ 
le  das  grandes  descobertas  que  fazem  honra  à  humanidade. 


ALLAN  KARDEC. 


—  232 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


Onde  Ides,  Mocidade  Louca  do  Brasil? 


(Sobre  as  Juventudes 

Um  pouco  de  história.  —  Uma  diretriz,  fruto 
da  Experiência.  —  Despersonalismo  na 
ação  visto  de  mais  alto. 

O  movimento  de  Juventudes  Espí¬ 
ritas  nasceu  em  S.  Paulo,  no  Bairro  de 
Santana,  aí  por  1934. 

Tivemos,  para  logo,  uma  carta  de 
seu  iniciador,  convidando  para  êle  a  nos¬ 
sa  adesão  e  colaboração. 

Estavamos,  porém,  entregue  a  po¬ 
lêmicas,  na  suposição  de  que,  terçando  ar¬ 
mas  com  sacerdotes  e  doutores,  na  defe¬ 
sa  de  princípios  doutrinários,  estivessemos 
servindo,  melhormente,  a  Doutrina. 

Contudo,  escrevemos  um  artigo  em 
REFORMADOR,  animando  o  movimen¬ 
to  e  fundamos,  no  ano  seguinte,  a  Moci¬ 
dade  Espírita  de  Nova-Iguassú. 

A  mais  antiga,  atualmente,  no  Bra¬ 
sil,  porque  fundada  a  23  de  Junho  de 
1935,  visto  como  o  movimento  de  S.  Pau¬ 
lo  fracassou. 

Fomos,  posteriormente,  a  S.  Paulo, 
e  assistimos,  incógnito,  a  reunião  de  uma 
juventude  espírita. 

Números  de  música,  declamação, 
muita  paralogem  sobre  o  divórcio  e  so¬ 
bre  a  existência  de  Deus,  e  nada  de  Dou¬ 
trina  Espírita. 

Decepção  para  nós. 

Bem  diferente  era  o  programa  do 
movimento  de  Nova-Iguassú,  errado,  ain¬ 
da,  numa  coisa  :  na  sua  autonomia. 

Não  nos  animamos,  contudo,  a  sair 
a  campo,  agitando  os  moços,  que  as  po¬ 
lêmicas  ainda  monopolizavam  nossas  aten¬ 
ções,  nossa  melhor  atividade  a  serviço  da 
Doutrina. 

A  construção  do  Lar  de  lesus  foi  o 
alto  lá!  a  nossas  atividades  polemísticas. 

Nem  pela  atividade  que  os  jovens 
espíritas  de  cá  tiveram  no  evento,  que 
foi  marcante ;  nem  por  isso,  nos  resolve¬ 
mos  a  sair  a  campo,  agitando  Juventudes... 

Um  ano  mais  tarde,  cai-nos  um  jor¬ 
nal  às  mãos,  profano,  com  um  apêlo- 
comentário  com  o  mesmo  título  destas 
razões. 


Espíritas  Organizadas) 

Perguntava  o  jornalista,  depois  de 
tristes  e  dolorosas  considerações  : 

—  Onde  ides,  mocidade  louca  do  meu 
"Brasil  f 

Dolorosas  e  tristes  considerações 
mais  ou  menos  assim  : 

—  Mocidade  que  só  vibra  pelo  fu¬ 
tebol  ;  que  só  leva  a  sério  esportes  e  fu¬ 
tilidades ;  que  leva  todo  o  ano  em  pleno 
carnaval  e  aguarda  o  carnaval  do  ano. 
Mocidade  cuja  cultura  não  sóbe  além  dos 
bonequinhos  das  télas  de  cinema,  de  can¬ 
tores  de  rádio  e  de  jogadores  de  futebol. 
Mocidade  que  abarrota  os  ginásios  menos 
para  estudar  do  que  para  conseguir,  de 
qualquer  modo,  certificados  de  exames 
finais,  usando,  para  tanto,  a  cola  como 
instituição  legal.  Mocidade  que  transfe¬ 
riu  o  talento  da  cabeça  para  os  pés  e  pa¬ 
ra  os  músculos,  por  isso  é  que  dos  pro¬ 
gramas  ginasiais,  a  parte  esportiva  é  a 
que  mais  a  interessa.  Mocidade  que  per¬ 
deu  o  respeito  aos  mais  velhos,  que  pa¬ 
rece  desconhecer  a  palavra  educação.  Mo¬ 
cidade  que  perdeu  o  apêgo  à  família  e 
foge  do  decoro  público,  como  aí  estão 
provando  seus  modos  e  as  cenas  indeco¬ 
rosas  de  namoro  nos  veículos,  nos  cine¬ 
mas,  nas  praias  de  banho,  nas  ruas.  Mo¬ 
cidade  que  só  sái  à  rua,  em  protestos  co¬ 
letivos,  pugnando  por  descontos  nas  ca¬ 
sas  de  espectáculos,  como  a  campanha 
dos  50  o/°  nos  cinemas,  embora  em  ses¬ 
sões  nas  horas  das  aulas,  para  gazeiar. 
Mocidade  que,  se  não  tem  vícios,  tem  o 
vício  de  fumar  . .  . 

zMocidade  louca  de  meu  Brasil,  onde 
ides  nesta  disparada  criminosa  ? 

Se  o  Brasil  de  hoje,  governado  por 
espíritos  que  vieram  de  regimens  de  vida 
e  de  educação  em  que  se  formaram  os 
Rui  Barbosa  e  Rio  Branco,  é  isto  que  aí 
está,  que  será  de  vossa  terra,  quando  fôr 
governada  por  vós,  daqui  ha  30  ou  50 
anos  ? 

O  painel  chocou-nos  dolorosamente, 
porque  somos,  ainda,  dos  que  amam  sua 
terra  e  sua  gente. 

E  lembramo-nos  que  uma  época  hou¬ 
ve  em  que,  também  em  Paris,  uma  voz 
se  ergueu,  advertindo  a  mocidade.  A  voz 


Revista  Internacional  dó  Espiritismo 


-  233  — 


de  Rauol  Pictet,  em  1908,  que  descobrira 
a  mocidade  francesa  estava  envenenada 
pela  descrença  e  futilidades  da  época. 

E  a  época  não  conhecia,  ainda,  o 
futebol  feito  profissão,  fonte  de  riquezas 
e  de  glórias,  cuja  imprensa  e  rádio  lhe 
dedicam  páginas  e  mais  páginas,  progra¬ 
mas  e  mais  programas.  Nem  havia,  ainda, 
o  rádio  e  as  radiomanias,  glorificando  to¬ 
da  sorte  de  futilidades. 

Pior,  portanto,  a  nossa  época,  que  o 
envenenamento  vai  desagregando  a  nacio¬ 
nalidade,  visto  como  já  desagregou  a  fa¬ 
mília,  o  lar,  a  educação.  , 

Sacudido  pelo  grito  de  alarma,  foi, 
então,  que  resolvemos  a  algo  que  pudes¬ 
se,  de  algum  modo,  atenuar,  no  mínimo 
que  fosse,  o  descalabro. 

Quanto  mais  não  fosse,  no  campo 
espirítico. 

Voltamo-nos,  animado  e  animoso, 
ao  movimento  de  juventudes  Espíritas,  só 
pelo  prazer  de  animar,  de  incentivar,  de 
arregimentar,  por  amor  ao  Brasil,  por  pe¬ 
na  de  muitos  jovens,  por  serviço  á  Dou¬ 
trina. 

Dizemo-lo,  para  que  não  se  pense, 
ferindo  o  «Não  julgueis»  do  Evangelho, 
que  estamos  fazendo  obra  pessoal,  que 
procuramos  cartaz  á  custa  das  Juventudes. 

Ao  contrário  :  dispomos,  mercê  de 
Deus,  de  cartaz  para  colocá-lo  a  serviço 
das  Juventudes. 

E’  o  que  vimos  fazendo. 

E  decorre  daí  o  desenvolvimento 
que  o  movimento  de  Juventudes  Espíri¬ 
tas  vai  tendo  no  Brasil. 

E’  certo  que  sua  hora  chegou.  Mas, 
se  não  houver  quem  viva  o  imperativo 
da  hora,  claro  que  a  hora  será  adiada  pa¬ 
ra  outra  época. 

Foi  bem  o  que  se  deu  com  a  de¬ 
mocracia  e  o  Cristianismo,  ha  tantos  sé¬ 
culos  revelados  à  Terra,  entretanto,  ain¬ 
da  sem  o  seu  perfeito  cumprimento .  . . 

Preferimos,  aliás,  a  conselho  de  Pau¬ 
lo  de  Tarso,  dar  a  receber. 

Para  dar  mais,  muito  mais,  ao  Mo¬ 
vimento  juvenil,  é  que  fomos,  em  com¬ 
panhia  do  prezadíssimo  confrade,  Artur 
Lins  de  Vasconcelos,  ao  ilustre  presidente 
da  Federação  Espírita  Brasileira,  que  sou¬ 
bemos  resolvera  se  interessar  pelo  movi¬ 
mento,  aliás,  com  mais  recursos  e  auto¬ 
ridade  para  tanto  ;  para  dar  mais  ao  mo¬ 
vimento  procurámos,  assim,  aquela  casa, 


para  transferir  o  pouco  que  já  temos  fei¬ 
to  em  prol  do  movimento. 

E  este  pouco  já  monta  a  cento  e 
poucos  movimentos  organizados  por  nossa 
influência  direta  ou  indireta,  espalhados 
de  Norte  a  Sul,  do  litoral  ao  centro  do 
País.  Uns  80  %  a  trabalhar  por  um  só 
programa,  cada  um  dentro  de  suas  possi¬ 
bilidades,  uns  a  dar  mais,  outros,  menos. 

Deixamos  com  aquele  ilustre  con¬ 
frade  três  questões  a  ser  estudadas  e,  pos¬ 
teriormente,  resolvidas : 

a)  Se  interessa  á  Federação  Espíri¬ 
ta  Brasileira  encampar  o  que  vimos  fa¬ 
zendo  para  a  arregimentação  de  moços 
espíritas  em  Juventudes,  afim  de  orientar 
uniformemente,  o  movimento ; 

b)  Se  quer  promover  o  i.°  Con¬ 
gresso  de  Juventudes  Espíritas,  talvez  no 
ano  próximo,  pelas  férias  de  Julho,  para 
maior  desenvolvimento  e  incentivo  ao 
movimento,  de  que  poderá  sair  o  Con¬ 
selho  orientador  das  Juventudes  do  Brasil ; 

c)  Se  quer  nossa  colaboração  ex¬ 
pontânea  para  tanto,  visto  como,  colo¬ 
cando  a  Doutrina  acima  dos  agrupamen¬ 
tos  sociais,  e  êstes,  acima  dos  indivíduos, 
estaremos,  sempre  onde  nos  chame  o  tra¬ 
balho  eficiente  e  honesto,  sem  paixões  e 
propósitos  subalternos. 

Parece-nos  que  assim  procedendo  es¬ 
tamos  dando  provas  concretas  de  nosso 
despersonalismo.  De  resto,  se  o  que  já  fi¬ 
zemos,  até  agora,  tivesse  carácter  de  obra 
pessoal,  certamente  que  não  seriamos  vis¬ 
to  do  mais  alto  e  por  quem  nos  conhece 
melhor,  porque  por  José  Petitinga, 
que  nos  trouxe,  ha  mais  de  trinta  anos, 
para  a  Doutrina,  conforme  a  Mensagem 
que  nos  enviou  pela  mediunidade  do  Chi¬ 
co  Xavier,  Mensagem  mediúnica,  recebi¬ 
da  depois  de  um  programa  de  intensa  vi¬ 
bração  doutrinário-artística,  com  música, 
declamação  e  canto  espiritualistas,  men¬ 
sagem  que  publicámos  com  a  denomina¬ 
ção  de  Espiritismo  de  Vivos. 

Ninguém,  de  resto,  faça  obra  pes¬ 
soal  no  Espiritismo,  nem,  tampouco,  obra, 
com  segundas  intenções,  em  torno  de  gru- 
pinhos,  que  o  Espiritismo  é  obra  de  apro¬ 
ximação  e  confraternização  em  nome  do 
Cristo  e  por  amor  do  Cristo . . . 

Rolará,  agarrado  a  sua  obra,  quem 
assim  proceder  . .  . 

No  serviço  da  Doutrina,  o  bom 
operário  receberá  cem  por  um  que  faça. 

A’s  vezes,  até  mais,  por  misericór- 


—  234  - 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


dia  e  de  acréscimo,  que  é  o  nosso  caso. 

Temos  recebido  mil  por  um,  pelo 
pouco  que  já  envidámos  a  pról  deste  mo¬ 
vimento,  já  reunindo,  por  toda  parte  jo¬ 
vens  entusiastas  em  juventudes  organiza¬ 
das,  já  contagiando  de  nosso  entusiasmo 
jovens  de  cabelos  grisalhos,  como  nós. 

E  que  desejamos  nós,  senão  que  es¬ 
ses  jovens  trabalhem,  progridam,  se  unam 
e  realizem  obras  dignas  deles  e  da  Dou¬ 
trina  1 

Sómente  nisso,  que  não  em  posto 
algum  de  comando  e  orientação  sistemᬠ
tica,  está  a  maior  recompensa  que  pode¬ 
mos  esperar  de  tão  santo  labor. 

Quasi  duas  centenas  de  Juventudes 
Espíritas  já  se  agitam  por  aí  além 

Quasi  uma  centena  a  trabalhar  por 
um  mesmo  programa.  Um  esforço  eficien¬ 
te  para,  talvez,  realizar  aquilo  que  espí¬ 
ritas  de  nossa  idade  não  conseguem  :  uni¬ 
dade  de  trabalho  e  de  ação. 

Mais  de  uma  centena  a  trocar  cor¬ 
respondência  animada  sôbre  coisas  da 
Doutrina,  cimentando  amizades  sinceras 
que  desafiarão,  por  certo,  espaço  e  tempo. 

E  as  «Juventudes»  que  trabalham 
«ombro  a  ombro  e  lado  a  lado  com  os 
«maduros*  e  experimentados,  recebendo 
destes  estímulos  e  experiências  e  confe¬ 
rindo-lhes  calor  e  vivacidade,  estas,  as 
que  vão  produzindo  mais  e  melhor.  Don¬ 
de,  a  conclusão  que  tiramos  de  que  uma 
Juventude  Espírita  deve  funcionar  como 
departamento  de  uma  instituição  já  exis¬ 
tente.  Seu  departamento  juvenil.  Deve 
funcionar  assim,  por  medida  cristã,  para 
a  obra  de  solidariedade,  por  economia  de 
tudo. 

Juventude  espírita  autônoma,  que 
funcione  confiada  em  si  mesmo,  parece 
reino  dividido.  E  todo  reino  dividido  .  .  . 
Além  do  maisfc  a  trabalheira  para  a  cons¬ 
trução  de  sédes  e  as  dificuldades  para  o 
registro  jurídico,  de  vez  que  os  juventinos 
são,  na  sua  maioria,  de  menor  idade  ?... 

Os  moços  podem  muito,  é  fato,  pe¬ 
la  força  da  mocidade  mesma,  de  seu  en¬ 
tusiasmo.  Mas,  sem  a  experiência  que  só 
os  anos  podem  trazer... 

Entregues  a  si  mesmos,  os  moços 


fazem  mais  tolices  do  que  coisas  que  sir¬ 
vam.  E  não  é  nenhuma  novidade,  visto 
como  ha  tanta  tolice  de  velhos,  por  aí 
afóra. 

Temos  exemplps  cá  por  cá,  a  den¬ 
tro  do  movimento  moço  mais  velho  do 
Brasil. 

Já  atravessou  três  fases  distintas, 
só  não  deixando  de  existir,  devido  a  pon¬ 
deração  dos  mais  velhos. 

Na  primeira  fase  foi  dirigido  por 
jovem  professora^  e  por  um  intelectual, 
jornalista  e  polemista.  Fracasso. 

Na  segunda  fase.  por  excelente  mé¬ 
dium,  oradora  e  receitista.  Fracasso. 

Podemos  alinhar  aqui  outros  exem¬ 
plos.  E  até  mais  chocantes. 

A  autonomia  de  movimentos  juve¬ 
nis,  sôbre  ser  manifestação  orgulhosa  de 
confiança  em  si  mesmo,  é  prenúncio  for¬ 
te  de  falência  antecipada. 

Daí,  a  necessidade  de  mentores,  ou 
que  outro  nome  tenham,  experimentados. 

Somos  dos  que  ouviram  em  moço 
que  *o  Espiritismo  é  sério  de  mais  para 
interessar  a  moços,  que  não  levam  nada 
á  sério.» 

Pregamos,  hoje,  o  contrário,  cons- 
cio  de  que  jovens  bem  orientados  e  cons- 
ciêntes,  levam  as  coisas  mais  a  sério  do 
que  se  póde  julgar. 

Bem  orientados,  é  bem  de  ver,  que 
não  orientados  por  si  mesmos,  que  lhes 
faltam,  em  consequência  de  sua  pouca 
idade,  «engenho  e  arte»  para  tanto. 

Nesse  caso,  verificamos  que  é  mais 
fácil  — e  aqui  repetimos  uma  vez  mais—, 
contagiar  os  moços  de  entusiasmos  e  vi¬ 
brações  santas,  do  que  levar  velhos  es¬ 
píritas  a  despir  os  andrajos  de  homem 
velho,  que  eles  pensam  são  roupagens. 

mmm—m 

E  continuaremos,  de  qualquer  mo¬ 
do,  a  animar  os  jovens  para  o  serviço  de 
sua  espiritualização,  para  sua  arregimen- 
tação  em  Juventudes  Organizadas ,  na 
consciência  de  que  lhes  estamos  prestan¬ 
do  um  grande  serviço.  E  bem  maior  ao 
Brasil  e  ao  Espiritismo... 

Leopoldo  Machado. 


Imenso  é  o  Irabalho  que  vos  compele  realizar  na  seára  espírita. 
Uni- vos  cada  vez  mais  em  espírito  de  solidariedade ,  sob  o  lema  —  lodos 
por  um  e  um  por  lodos,  afim  de  que  o  vosso  Irabalho  se  complete  no 
Senhor.  Camargo. 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


—  235 


OS  SINAIS  DOS  TEMPOS  @ 


«E  farei  ver  prodígios  em  cima  no  céu  e  sinais  em  baixo  na  ter¬ 
ra,  sangue,  fogo  e  vapor  de  fumo.  Mas,  não  será  o  fim.» 


Depois  das  previsões  feitas  por  Je¬ 
sus  acerca  do  fim  dos  tempos, 
ou  seja  do  cumprimento  das  Es¬ 
crituras,  pediram  os  fariseus  que 
lhes  mostrasse  algum  prodígio  no  céu. 
Mas,  Jesus,  «arrancando  do  íntimo  do  co¬ 
ração  um  suspiro»,  disse  :  —  «Por  que  me 
pede  esta  geração  um  prodígio  ?  Em  ver¬ 
dade,  vos  digo  que  a  esta  geração  se  não 
concederá  prodígio».  (Marc.  VIII-12). 

Realmente,  a  geração  que  aí  está, 
sem  atrativos  e  sem  beleza,  passará,  sem 
ser  digna  de  muito  receber,  porque  se 
tornou  indigna  dessa  graça ;  ela  ficará  as¬ 
sinalada  por  grandes  descobertas,  é  ver¬ 
dade,  mas  no  sentido  do  mal.  Daí  Jesus 
ter  dito  que  a  esta  geração  não  seria  con¬ 
cedido  nenhum  prodígio. 

Mas,  eles  insistiram  : — «Então,  dize- 
nos,  quando  estas  coisas  hão  de  suceder. 
Que  sinál  haverá,  quando  estas  profecias 
começarem  a  se  cumprir  ?» 

E  o  Mestre  com  a  serenidade  que 
lhe  era  peculiar,  lhes  diz : — «Quando  isto 
acontecerá,  daquele  dia,  daquela  hora, 
ninguém  o  sabe  ;  nem  os  anjos  dos  céus, 
senão  o  Pai»  (Mat.  XXIV-36).  Todavia, 
prosseguiu,  Jesus: — «Quando  ouvirdes  fa¬ 
lar  de  guerras  e  de  tumultos,  não  vos 
assusteis ;  estas  coisas,  sim,  devem  suceder 
primeiro,  mas  não  será  logo  o  fim.  E, 
então,  levantar-se-á  nação  contra  nação  e 
reino  contra  reino.  Haverá  grandes  ter¬ 
remotos  por  varias  partes,  e  epidemias  e 
fomes,  e  aparecerão  coisas  espantosas  t 
grandes  sinais  no  céu ;  e  haverá  sinais  no 
sol  e  na  lua  e  nas  estrelas,  e  na  terra 
consternação  das  gentes,  pela  confusão  em 
que  as  porá  o  bramido  do  mar.  Mas,  an¬ 
tes  de  tudo  isto,  lançar-vos-ão  eles  as 
mãos,  e  perseguir-vos-ão,  entregando-vos 
ás  sinagogas  e  aos  cárceres,  levando-vos  a 
presença  dos  reis  e  dos  governadores,  por 
causa  do  meu  nome.  Isto  vos  será  oca¬ 
sião  de  dardes  testemunho»  (Luc.  XXI- 
9- 13)- 

E’  o  cumprimento  integra!  da  pro¬ 
fecia  de  Joel :  — «Depois  disto  acontecerá 
também  o  que  vou  a  dizer: — Eu  derra¬ 


marei  o  meu  espírito  sobre  toda  a  carne ; 
e  os  vossos  filhos  e  as  vossas  filhas  pro¬ 
fetizarão,  os  vossos  velhos  serão  instruí¬ 
dos  por  sonhos,  e  os  vossos  mancebos  te¬ 
rão  visões.  E  derramarei  também  naque¬ 
les  dias  o  meu  espírito  sobre  os  meus  ser¬ 
vos,  e  sobre  as  minhas  servas.  E  darei  a 
ver  prodígios  no  céu,  e  na  terra  prodí¬ 
gios  de  sangue,  e  de  fogo,  e  de  vapor  de 
fumo»  (Joel,  II-28-30). 

Embora  jesus  tenha  dito  que  o  Pai 
saberia  quando  estas  coisas  se  dariam,  nós 
outros,  pelos  sinais  que  ele  próprio  avi¬ 
sou  que  apareceriam,  no  céu  e  na  terra, 
estamos  capacitados  para  compreender, 
que  os  tempos  previstos,  são  os  que  esta¬ 
mos  vivendo,  pois,  não  só  estamos  obser¬ 
vando  os  sinais  no  céu  e  na  terra,  como 
as  coisas  espantosas,  de  que  também  nos 
falou  Jesus. 

E  como  na  hora  que  passa,  tudo 
prenuncia  a  chegada  dos  tempos  novos, 
mister  se  faz  que  os  espíritas,  muito  jus¬ 
tamente,  considerados  «os  escolhidos  do 
Pai»  ou  seja  «os  trabalhadores  da  undé¬ 
cima  hora»,  se  preparem  para  enfrentar 
com  denodo  as  lutas  que  terão  de  vir. 

Por  toda  a  parte  estão  surgindo  os 
médiuns,  curando,  fazendo  andar  os  para¬ 
líticos,  operando  os  mesmos  prodígios  que 
Jesus  fizera,  e  até  mesmo  no  seio  da  pró¬ 
pria  Igreja :  Os  padres  também  estão  cu¬ 
rando ..  .  E  como  também  estava  previs¬ 
to,  estão  sendo  provados  na  sua  fé,  ou 
seja,  estão  vivendo  aquela  hora  do  teste¬ 
munho,  de  que  nos  fala  Lucas. 

Madame  Jael,  em  Pernambuco,  para 
poder  continuar  a  aplicar  os  «passes»,  que 
realmente  curam,  acaba  de  requerer  um 
mandato  de  segurança.  O  padre  Antonio, 
em  Ucrânia,  no  Sul  do  País,  está  tam¬ 
bém  produzindo  curas.  No  segundo  caso, 
porém,  na  opinião  de  outro  sacerdote,  o 
vigário  de  Ucrânia  —  «As  benções  que  o 
padre  Antonio  administra  aos  milhares  de 
fieis  que  o  procuram  são  as  mesmas  que 
qualquer  sacerdote  póde  administrar.  Aliás, 
todos  nós,  ministros  de  Deus,  somos  obri¬ 
gados  a  ministrá-las.  Portanto,  elas  são 
lançadas  em  rigorosa  observância  aos  dog- 


-  236 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


mas  da  igreja.  Nada  de  exorcismos,  como 
admitem  alguns  insensatos». 

Que  melhores  sinais  poderiamos  de¬ 
sejar  do  que  estes  ? 

Mas,  Jesus,  consoladoramente,  diz  : 
«Importa  que  estas  coisas  sucedam,  êste 
não  será  ainda  o  fim  !»  ,(Mar.  XIII-7). 

E  realmente,  não  será  o  fim,  por¬ 
que,  nada  terá  fim  sobre  a  terra.  Dentro 
do  preceito  da  lei  de  evolução,  tudo  se 
transforma ;  tudo  desaparece,  para  reapa¬ 
recer  depois ! 


O  ano  dois  mil,  depois  de  Jesus 
Cristo,  assinala,  apenas,  a  conclusão  do 
milênio,  nos  destinos  da  Humanidade,  ou 
seja  o  término  da  éra  adâmica. 

Por  isto  não  será  o  fim»  porque  a 
vida  continuará,  através  das  épocas  e  dos 
tempos ! . . . 


Com  o  término  do  'milênio,  a  ter¬ 
ra  terá  atingido,  o  cume  ou  o  vértice  da 
escala,  na  história  da  sua  evolução  plane¬ 
tária,  quando,  então,  passará  a  uma  nova 
categoria ;  quando  haverá  o  absoluto  do¬ 
mínio  do  homem  privilegiado  do  tercei¬ 
ro  milênio.  Por  fôrça  das  circunstâncias, 
êle,  terá  substituído,  nas  suas  perquirições, 
a  psicologia  experimental  pela  psicologia 
intuitiva. 

O  problema  fundamental  da  paz  do 
futuro,  seu  fator  primordial,  residirá  no 
elemento  homem.  Êle  será  a  chave  do 
mundo  do  futuro.  Estará  onde  estiver  o 
homem,  como  a  razão  de  ser  das  suas 
ações,  fonte  primária  de  todos  os  aconte¬ 
cimentos. 

«Não  haverá,  portanto,  mundo  me¬ 
lhor  sem  homens  melhores»,  diz-nos  Ema¬ 
nuel,  em  sábia  comunicação. 

Nova  Iguassú,  Agosto  de  1947. 


Um  amigo  nosso,  médico,  delicia  se, 
agora,  com  um  livro  intitulado  Espiri¬ 
tismo  no  Brasil  —  editado  há  uns  quinze 
anos.  E’  êle  da  autoria  de  dois  ilustres 
psiquiatras.  reforçando-lhe  e  robustecendo- 
lhe  as  páginas  uma  belíssima  plêiade  for¬ 
mada  de  doutores  de  vária  espécie,  que 
vieram  todos  dar  o  seu  parecer  contra  o 
Espiritismo  e  seu  apoio  a  uma  campanha 
de  repressão  a  tão  nefasta  doutrina. 

O  nosso  amigo  está  um  tanto  ou 
quanto  impressionado  com  os  estragos 
que  aquele  ariete  vem  fazendo  nas  fileiras 
espíritas,  principalmente  depois  que  hou¬ 
ve  uns  debates  em  certa  sociedade  por 
êle  frequentada,  e  em  vista  das  citações 
contínuas  hauridas  no  famoso  livro. 

Um  dos  p.mtos  ventilados  foi  o  das 
mesas  girantes  que,  no  opinar  da  douta 
assembléia,  e  diante  das  discussões  em 
tõrno  do  assunto,  ficou  inteiramente  li¬ 
quidado.  Liquidaram-no  as  páginas  do  re¬ 
ferido  tratado,  com  as  luzes  dos  seus  aba¬ 
lizados  colaboradores. 

Boa  oportunidade  para  focalizar  a 
matéria. 

Ora,  na  citada  obra,  dizem  os  seus 
autores,  escudados  em  Chevreul  : 


«Os  pensamentos  provocam  os  movimentos 
involuntários.  E’  o  pensamento  que  põe 
a  mesa  em  movimento,  contra  a  vontade 
individual.  Da  mesma  forma  que  nas  experiên¬ 
cias  com  a  varinha  adivinhatória  e  com  o  pên¬ 
dulo  explorador,  os  processos  intelectuais  pos¬ 
tos  em  jogo  não  são  sómente  involuntários,  mas 
também  inconscientes». 

Depois  desta  proposição,  os  referi¬ 
dos  autores  declaram  que  o  médium  ig¬ 
nora  o  movimento  da  mesa  e  não  reco¬ 
nhece  como  suas  as  respostas  dadas.  Ila¬ 
ção  que  se  impõe  :  suporem  que  se  trata 
de  Espíritos.  E  para  demonstrarem  que 
as  falas  da  mesinha  devem  ser  do  mé¬ 
dium  ou  de  quem  lhes  toca,  tratam  das 
experiências  de  Baudoin,  experiências,  se¬ 
gundo  os  autores,  «altamente  demonstra¬ 
tivas  dêsses  factos». 

Preliminarmente,  conviria  indagar  se 
se  trata  de  pensamento  ou  subconsciente. 
Adiante,  porém  Essas  experiências  alta¬ 
mente  demonstrativas  consistem  no  se¬ 
guinte  :  Trata-se  de  um  círculo  em  que 
se  traçam  linhas.  Um  indivíduo  passa  a 
mão  num  pêndulo  e  lhe  mandam  que 
«pense  bem»  numa  das  linhas,  acompa¬ 
nhando-a  mentalmente  de  uma  extremi¬ 
dade  à  outra.  No  fím  de  alguns  segundos, 
o  pêndulo  começa  a  oscilar  na  direção 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


—  237  — 


da  linha.  De  onde  se  conclue  que  pêndu¬ 
lo  de  Baudoin,  varinha  adivinhatória  e 
mesa  girante  é  tudo  a  mesma  coisa.  E 
está  explicado  tudo  1 

Quem  conhece,  porém,  os  mencio¬ 
nados  fenômenos,  verifica  que  êles  se  pa¬ 
recem  uns  com  outros  como  ovos  com 
espetos. 

Entre  o  pêndulo  e  a  vára  mágica 
não  há  nada  de  comum,  como  não  se  as¬ 
semelham  os  prodígios  da  vára  com  as 
falas  da  mesa,  como  nada  há  que  faça 
confundir  a  mesa  girante  com  o  pêndulo. 

Na  dita  experiência  de  Baudoin,  o 
indivíduo  tem  diante  dos  olhos  um  círcu¬ 
lo  com  linhas,  isto  é,  qualquer  coisa  que 
êle  vê  e  na  qual  mandam  que  apense  bem>. 
São,  por  consequência,  banalíssimos  mo¬ 
vimentos  de  músculos,  de  acordo  com  o 
pensamento  do  indivíduo.  Aí  póde  bem 
ser  que  o  pensamento  dirija  os  músculos 
e  os  músculos  façam  mover  o  pêndulo. 
Pode  ser  . .  . 

Diversissimo  é  o  caso  da  varinha 
mágica,  onde  o  agente  sái  a  descobrir 
coisas  que  nunca  estiverem  em  seu  pensa¬ 
mento,  e  muito  menos  em  seu  inconscien¬ 
te,  que  êle  não  viu,  que  não  sabe  onde 
estão,  que  não  sabe  como  são.  Tem  co¬ 
mo  guia  único  a  varinha.  E  com  ela  des¬ 
cobre  lençóis  dágua,  minérios,  tesouros, 
objetos  ocultos ... 

Em  que  se  póde  relacionar  o  fenô¬ 
meno  com  o  do  pêndulo,  onde  o  experi¬ 
mentador  tem  tudo  à  vista,  onde  sabe 
que  o  pêndulo  deve  orientar-se  de  certo 
modo  e  onde  um  minúsculo  movimento 
de  mão  é  o  suficiente  para  que  a  orien¬ 
tação  se  verifique  ? 

Não  se  póde  dizer,  com  a  varinha, 
que  o  pensamento  provocou  o  que  quer 
que  seja,  porque  o  explorador  desconhe¬ 
ce,  por  completo,  o  lugar  em  que  se  acha 
o  que  êle  vai  descobrir,  e,  muitas  vezes 
o  que  deve  ser  descoberto.  Que  pensa¬ 
mentos  podem  aqui  provocar  os  movi- 
mentos?  Pensamentos  de  que?  Como  po¬ 
derão  agir  os  pensamentos?  E’  realmente 
pena  que  o  Chevreul,  ou  o  Baudoin,  ou  os 
autores  do  Espiritismo  no  Brasil  não  nos 
possam  explicar  isto.  Quanto  aos  autores, 
dêles  espero  -há  15  anos  uma  informação 
a  respeito.  Nada  até  agora ! 

Sem  esperança  de  explicação,  pros¬ 
sigamos. 

Muito  mais  complicada,  ainda,  é  a 
questão  da  mesa  giratória.  Em  i.°  lugar, 
conviria  que  os  autores  nos  esclarecessem 


sobre  o  processo  por  que  o  pensamento 
de  determinada  pessoa  fará  da  mesa  gi¬ 
ratória  um  ser  raciocinante.  A  mesa  não 
se  limita  a  simples  movimentos  oscilató¬ 
rios,  como  no  caso  do  pêndulo  e  da  vára  : 
ela  soletra  o  alfabeto,,  apresenta  palavras; 
estas  formam  frases,  e  as  frases  juizos. 
Ela  pensa,  raciocina,  discute,  revolta-se, 
contesta,  contradiz,  adivinha,  arrazoa  . . , 
Fala  no  em  que  ninguém  pensa,  assom¬ 
bra  pelo  imprevisto.  A’s  vezes  se  mostra 
superior  em  moral,  em  inteligência  e  em 
conhecimentos,  aos  circunstantes.  Fabrica 
prosa  e  versos  admiráveis,  constrói  sen¬ 
tenças,  forma  doutrina,  aconselha,  identi¬ 
fica  uma  pessoa  morta,  faz  revelações, 
diz  coisas  de  todos  ignoradas,  previne, 
premune  .  . . 

Muito  parecido  com  o  pêndulo  I  .. . 
Mas  é  uma  parecença  que  só  podem  per¬ 
ceber  os  afortunados,  os  «iniciados»  em 
tais  questões. 

Os  profanos  como  nós,  nem  por  es¬ 
forço,  mais  mágico  que  o  da  vára,  pode¬ 
rão  abiscoitar  a  analogia.  Porque  não  bas¬ 
ta  afirmar  que  é  o  pensamento  que  trans¬ 
mite  à  mesa  o  dom  da  palavra  e  da  ra¬ 
zão.  Seria  conveniente  elucidar-nos  por 
que  artes  se  senta  um  médium  de  poucas 
letras  ou  mesmo  de  nenhumas,  a  certa 
mesinha,  sem  que  o  mandem  «pensar 
bem»  em  nada,  sem  que  êle  pense  no 
que  vai  dizer  a  mesa,  ou  pense  mesmo 
em  coisa  alguma  —  e  entra  a  mesa  a  dis¬ 
correr. 

Ainda  há  mais:  a  mesa  move-se  e 
discursa  sem  que  lhe  toquem.  A  trans¬ 
missão  do  pensamento  aí  é  que  é  um  ca¬ 
so  sério  !  E  que  semelhança  com  o  pên¬ 
dulo  de  Baudoin  I  .  . . 

Já  seria  difícil  perceber  como  os 
músculos  de  alguém  pudessem  imprimir 
velozmente,  febrilmente,  instantâneamente 
letras,  palavras,  frases,  períodos,  idéias, 
sentenças,  mensagens ;  já  respondendo  a 
perguntas,  já  revidando  aos  interlocutores, 
já  os  contrariando,  já  prestando  informes, 
já  fazendo  descobrimentos,  já  dizendo  coi¬ 
sas  inesperadas,  já  prevendo  acontecimen¬ 
tos,  já  se  identificando  como  um  defunto, 
e,  por  vezes,  defunto  de  que  ninguém 
cuidou,  já  produzindo  notáveis  peças  .  .  . 
Tudo  isto  seria  dificílimo  perceber  com  o 
auxílio  das  mãos;  como  se  poderia  expli¬ 
car,  sem  o  auxílio  de  mão  nenhuma,  é  o 
que  suplicaríamos  nos  esclarecesse  a 
douta  assembléia  em  que  esteve  o  nosso 
amigo,  já  que  perdemos  a  esperança  nas 


238 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


elucidações  dos  autores  do  livro  fulmi¬ 
nante,  e  é  impossível  ir  buscar  o  Baudoin 
ou  o  Chevreul. 

Teríamos,  pois,  que  o  pensamento 
passaria  para  a  mesa  sem  veículo.  Que 
progresso  !  Melhor  que  o  fio  telefônico. 

Já  não  podemos  mais  apelar  para  os 
pensamentos  provocadores  de  movimen¬ 
tos  involuntários.  Aqui  as  idéias  teriam 
que  transformar-se  em  alavancas  capazes 
de  fazer  mexer  a  mesa,  e  a  alavanca  em 
abeccdário,  e  o  abecedário  em  cartilha,  e 
a  cartilha  em  discurso. 

Há  ainda  mais  e  melhor.  Quer  te¬ 
nham  as  mãos  sobre  a  mesa,  quer  não  as 
tenham,  existem  sempre  várias  pessoas  e 
vários  médiuns  numa  sessão.  E,  por  ve¬ 
zes,  tantos  quantos  são  os  seus  compo¬ 
nentes.  E’  impossível  acreditar  que  este¬ 
jam  todos  pensando  exáta,  precisa,  justa¬ 
mente,  da  mesma  forma.  Nunca  houve 
isso  !  Cada  qual  deve  ter  uma  preocupa¬ 
ção  diversa,  um  pensamento  diverso,  uma 
interrogação  diversa.  Entretanto,  não  há 
uma  baralhada  infernal ;  nâ^o  se  verifica 
nenhuma  confusão.  Ao  invés  de  um  pan¬ 
demônio,  de  uma  tôrre  de  Babel,  de  uma 


embrulhada  terrível,  que  seria  a  tradução, 
pela  mesa,  ainda  que  por  processos  mis¬ 
teriosos,  de  um  pensar  à  mistura,  de  uma 
verdadeira  miscelânea  de  idéias,  conjetu¬ 
ras,  suposições,  dúvidas,  interrogações, 
conceitos,  ou  subconscientes,  a  mesa  ex¬ 
pressa-se  com  ordem  e  método,  rebate  os 
pensamentos  e  as  proposições  apresenta¬ 
das,  age  com  perfeita  independência.  E 
teima,  por  fim,  em  deciarar-se  um  defun¬ 
to,  isto  unanimemente,  continuamente, 
quaisquer  que  sejam  as  doutrinas  filosófi¬ 
cas  ou  religiosas  da  comunidade. 

Enfim,  já  que  saindo  do  pêndulo, 
do  círculo  ou  das  retas  de  Baudoin,  os 
honrados  psiquiatras  e  seus  admiradores 
nada  mais  nos  têm  dito  que  nos  elucide, 
pediriamos  ao  amigo  que  voltasse  à  douta 
assembléia,  onde  com  tanto  critério  e  sa- 
bedi  ria  se  discutiu  e  aprovou  a  tese  do 
importante  livro,  e  nos  trouxesse  a  expli¬ 
cação  que  a  nossa  ignorância  suscita. 

P2  ousamos  êsse  pedido,  com  receio 
de  que  as  nossas  cabeças  fiquem  girando 
mais  que  as  mesas. 

Carlos  Imbassahy. 


(ç)  Fenômenos  de  Materialização  6) 

x 


Na  terça-feira  extinta,  dia  28,  o« An¬ 
dré  Luiz»  esteve  cheio  de  vibrações  du¬ 
rante  a  reunião  alí  realizada,  da  qual  es¬ 
tive  ausente  por  motivos  de  força  maior, 
sob  a  presidência  da  senhorinha  Lais  Tei¬ 
xeira  Dias,  onde  se  verificaram  impor¬ 
tantes  fenômenos  transcendentes  de  efei¬ 
tos  físicos,  os  quais  nos  foram  relatados 
com  extremo  entusiasmo,  por  diversos 
companheiros  de  lides  doutrinárias.  Sou¬ 
bemos,  por  exemplo,  que  depois  de  se 
terem  materializado  os  espíritos  bondo¬ 
sos  de  Scheila  e  Batuira,  os  quais  vieram 
ao  recinto,  tocando  vários  assistentes,  ma¬ 
terializou-se  pela  primeira  vez  o  patrono 
do  Grupo,  o  preclaro  espírito  de  André 
Luiz,  discorrendo  sobre  o  Evangelho,  com 
segurança  e  sabedoria,  trazendo  a  assis¬ 
tência  em  suspenso  com  a  sua  voz  firme, 
forte  e  penetrante  provocando  fortíssimas 
emoções  nos  presentes  que,  contagiados 
por  um  sentimento  afetuoso  e  fraterno, 
chegaram  a  banhar  suas  faces  de  lágri¬ 
mas  confortadoras.  Depois  disso  —  infor¬ 


maram-me  —  Neusa  recomenda  que  con¬ 
videm  seu  pai  para  assistir  os  trabalhos 
da  próxima  reunião  e  Scheila,  por  sua 
vez,  tece  vários  comentários  e  expende 
considerações  oportunas  ácerca  dos  prin¬ 
cípios  gerais  da  Doutrina,  mandando  en¬ 
cerrar  os  trabalhos.  Pois  bem  :  foi  debai¬ 
xo  desta  influencia  benéfica  que  inicia¬ 
mos  hoje,  sábado,  i.°  de  Fevereiro,  a  nos¬ 
sa  sessão  de  tratamento  espiritual,  com 
uma  assistência  enorme,  composta  do  con¬ 
siderável  número  de  vinte  e  nove  pessoas, 
incluindo  os  componentes  do  Grupo  e 
alguns  visitantes  do  Rio,  de  Nova  Iguas- 
sú  e  de  Juiz  de  Fóra  Os  trabalhos  fo¬ 
ram  dirigidos  pelo  Ferreira,  que  faz  a 
prece  inicial  e  lê  um  capítulo  do  livro 
«O  Nosso  Lar»  comentado  por  mim,  na 
segunda  parte  da  reunião.  Arací  dá-nos 
excelentes  conselhos,  por  incorporação, 
através  do  médium  Lins,  fazendo  ver  a 
significação  e  o  alcance  das  nossas  reu¬ 
niões  e  esclarecendo  aos  visitantes  a  me¬ 
lhor  maneira  de  se  conduzirem  durante  a 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


—  239  — 


sessão,  recomendando  á  presidência  que, 
iniciada  a  segunda  parte,  procedesse  a 
narrativa  dos  resultados  a  que  nos  tem 
conduzido  as  nossas  reuniões  de  trata¬ 
mento  astral,  no  processo  de  transmuta¬ 
ção  de  células,  o  que  realmente  foi  feito. 
Recolhido  o  médium  á  cabine  e  depois 
de  cantado  o  hino  «Entardecer»,  o  Fer¬ 
reira  relata  o  seu  caso  pessoal  tecendo 
comentários  sobre  a  intervenção  cirúrgi¬ 
ca  e  a  consequente  cura,  com  que  foi  be¬ 
neficiada  sua  esposa.  Da  cabine,  a  esta  al¬ 
tura  dos  trabalhos,  fazem-se  várias  explo¬ 
sões  de  luz  de  cores  várias,  sendo  que  se 
verificou  o  facto  de  se  apresentarem,  si¬ 
multaneamente,  esses  fenômenos,  nas  duas 
extremidades  do  recinto.  Scheila,  avisa- 
nos  para  que  conservássemos  acesa  a  lâm¬ 
pada  pequena,  durante  algum  tempo  mais, 
pois  que  esta  não  estava  prejudicando  a 
boa  produção  dos  fenômenos.  O  bondo¬ 
so  espírito  vem,  materializado,  ao  recin¬ 
to,  ostentando  suas  belas  tranças,  trajan¬ 
do  diferentemente  de  como  se  nos  tem 
apresentado  e  avisando  o  nosso  irmão 
Magaldi  de  que  sua  filha,  a  nossa  meiga 
Neuza,  se  materializaria,  mas  que  fizesse 
todos  os  esforços  para  não  se  emocionar, 
prejudicando,  talvez,  o  brilho  do  seu  con¬ 
tacto.  O  nosso  confrade  diz  estar  muni¬ 
do  de  todas  as  energias  para  a  eventua¬ 
lidade  da  apreciação  da  realização  do  seu 
grande  sonho,  que  era  o  de  ver  e  falar 
com  o  ente  querido  que  ha  poucos  me¬ 
ses,  ainda  era  o  ornamento  fidalgo  do  seu 
lar.  Scheila  ainda  volta  ao  recinto  depois 
de  volver  à  cabine,  fazendo  passes  nas 
pessoas,  entre  os  assistentes,  destacados 
para  serem  tratados  na  reunião.  O  Fer¬ 
reira  estabelece  uma  espécie  de  inquérito, 
dando  a  palavra  ,  aos  visitantes  e  a  alguns 
confrades  da  casa,  cada  qual  externando 
o  seu  ponto  de  vista  sôbre  o  que  lhes 
era  dado  presenciar.  O  confrade  Newton 
de  Barros,  professor  do  Ginásio  Leopol¬ 
do,  de  Nova  Iguassú,  diz  do  seu  entu¬ 
siasmo  em  apreciar  os  singulares  fenôme¬ 
nos  correntes,  dizendo-se  encantado,  em¬ 
bora  soubesse  que  os  mesmos  se  realiza¬ 
vam  facilmente  e  não  obstante  eles  não 
o  levarem  a  convencer-se  mais  do  que  já 
está,  pois  que  de  ha  muito  estava  con¬ 
vencido  da  imortalidade  da  alma,  da  plu¬ 
ralidade  da  existência  e  da  comunicação 
dos  espíritos,  por  diversas  maneiras,  se¬ 
gundo  as  diferentes  modalidades  mediúni- 
cas.  O  irmão  Aleixo  Victor  Magaldi,  far¬ 
macêutico,  poeta  e  jornalista,  professor 

L  '  -  ••  ,  / 


da  Escola  Superior  de  Farmácia  e  Odon¬ 
tologia,  de  Juiz  de  Fora,  diz  estar  des¬ 
lumbrado  com  o  que  estava  assistindo, 
não  propriamente  com  a  apreciação  dos 
fenômenos  de  materialização  propriamen¬ 
te  ditos,  dos  quais  já  tinha  conhecimento, 
em  minúcias,  pela  leitura  dos  clássicos, 
mas  principalmente  pelo  processo  de  cu¬ 
ras  por  meio  da  troca  de  células  que  os 
espíritos  manejavam  facilmente,  aconteci¬ 
mento  que  vinha  marcar  um  evidente 
progresso  na  ciência  de  curar  as  enfermi¬ 
dades  físicas,  ampliando,  quasi  ao  infinito, 
as  possibilidades  de  êxito  no  difícil  e  de¬ 
licado  ministério,  cavando  assim,  sulcos 
profundos  nos  processos  convencionais  e 
exclusivistas,  geralmente  eivados  de  pru¬ 
ridos  sectaristas,  das  ciências  oficiais.  De¬ 
pois  de  uma  prece,  por  mim  proferida, 
Neusa  Magaldi  se  materializa,  chegando 
perto  do  seu  pai,  não  podendo  tocá-lo 
devido  a  ter  sentido  profunda  emoção, 
recuando,  a  soluçar,  com  as  mãos  cobrin¬ 
do  o  rosto,  como  a  querer  suster  o  pran¬ 
to  que  a  dominava.  O  José,  volta  a  fa¬ 
lar-nos  para  nos  dizer  que  Neuza  ainda 
voltava  depois  de  refazer-se  da  explosão 
emocional  que  a  acometera,  adiantando 
que  ela  estava  sendo  assistida  pelos  de¬ 
mais  guias,  os  quais  lhe  ministravam  pas¬ 
ses  magnéticos.  D.  Marilia  Barbosa  Macha¬ 
do  é  convidada  a  dizer  das  impressões 
que  a  dominavam,  acedendo  ela  com  o 
proporcionar-nos  uma  substanciosa  prele¬ 
ção,  dizendo  que,  com  esta,  completavam- 
se  três  vezes  em  que  ela  tomava  parte  de 
sessões  de  efeitos  físicos,  sendo  uma  em 
Macaé,  E.  do  Rio  e  outra  em  Uberaba, 
E.  de  Minas,  porém  a  esta  ela  acorreu 
com  maior  interêsse,  em  virtude  de  ter 
ciência  de  aqui  se  haver,  já,  materiali¬ 
zado  o  caro  espírito  que  animou  o  corpo 
de  sua  progenitora  nesta  existência,  não 
por  mera  curiosidade,  sim  por  desejar  re¬ 
ceber  do  espírito  familiar  as  elucidações 
e  o  conforto  de  que  carecia.  A  jovem  II- 
za  Chaves  de  Almeida,  contadora,  diz  do 
seu  contentamento  em  assistir  aos  trans¬ 
cendentes  trabalhos,  produzindo  um  li¬ 
geiro  improviso  de  cunho  essencialmente 
evangélico.  O  Luiz  Mesculin  Junior,  con¬ 
tador  e  presidente  de  um  Centro  Espíri¬ 
ta  de  Juiz  Fóra,  comenta  o  facto  de  já 
ter  assistido  várias  vezes  às  nossas  sessões, 
porém  só  nesta  é  que  presenciava  os  fe¬ 
nômenos  de  materialização.  Diz  ter  ver¬ 
dadeira  veneração  ao  espírito  de  nosso 
patrono,  tendo  êste,  já,  se  apresentado 


c 


Kevista  Internacional  do  Espiritismo 


-  240  - 


aos  olhos  espirituais  de  sua  esposa,  mé¬ 
dium  vidente  e  de  incorporação,  tendo 
também,  através  dela,  dado  brilhante  co¬ 
municação.  D.  Margarida  Melich  expen¬ 
de  sua  opinião  pessoal  a  respeito  dos  fe¬ 
nômenos  que  tem  observado,  como  com¬ 
ponente  do  Grupo  para  onde  veio,  por 
necessidade,  para  cura  de  seus  males  físi¬ 
cos,  por  indicação  dos  nossos  guias.  O 
Ferreira  relata  o  facto  de  várias  curas 
aqui  verificadas,  e  em  Macaé,  explicando 
outrossim  as  razões  da  fundação  do  nos¬ 
so  Grupo.  Eu,  visado  pelas  referências  do 
Ferreira,  que  me  qualificavam  entre  as 
pessoas  de  sua  afinidade  e  simpatia,  de 
que  precisava  para  organizar  uma  insti¬ 
tuição  modelar,  que  se  transformasse  num 
prolongamento  do  Grupo  Espírita  «Pe¬ 
dro»,  de  Macaé,  E.  do  Rio,  onde  se  rea¬ 
lizam  sessões  de  efeitos  físicos  com  uma 
finalidade  superior  à  da  simples  produção 
de  fenômenos,  qual  seja  a  de  cura  dos 
males  físicos,  tomo  a  palavra  para  expôr 
que,  vindo  de  Astolfo  Dutra,  Minas,  on¬ 
de  ajudei  a  fundar  e  presidi,  durante  dez 
anos,  a  Cabana  Espírita  «Abel  Gomes», 
cheguei  a  sentir-me  desolado  por  desilu¬ 
sões  que  me  arrastaram  a  três  anos  de 
inatividade  nas  lides  difusoras  da  Doutri¬ 
na,  tendo-me  eu  reencontrado,  recobran¬ 
do  a  serenidade  e  o  vigor  que  deveriam 
guiar  as  minhas  atividades  doutrinárias, 
com  o  me  integrar  no  movimento  con- 
fraternativo  das  Semanas  Espíritas  e  com 
a  fundação  do  nosso  Grupo  «André  Luiz», 
onde  já  tive  oportunidade  de  ver  muitas 
entidades  espirituais  materializadas,  entre 
as  quais  os  queridos  espíritos  de  Abel 
Gomes  e  David  Pais  dos  Santos,  o  pri¬ 
meiro,  meu  grande  amigo  e  mestre  e  o 
segundo,  meu  pai  nesta  existência,  um  e 
outro  protetores  e  mentores  meus  de  to¬ 
das  horas ;  onde  já  vi  realizadas  curas  ad¬ 
miráveis  e  onde  afinal  e  principalmente 
vi  transformarem-se,  convertendo-se  à 
Doutrina  da  Terceira  Revelação,  os  meus 
parentes  e  afins  mais  próximos  e  os  meus 
amigos  mais  íntimos.  Batuira  vem  à  as¬ 
sistência,  materializado  apresentando  suas 
respeitáveis  barbas,  desta  vez  de  cor  de 
azeviche.  O  espítito  de  Fidelino  aparece- 
nos,  como  sempre,  aureolado  de  luz. 
Neuza,  materializada,  volta  à  assistência, 
dirigindo-se  ao  seu  pai  e  mantendo  com 
êle  rápido  diálogo  interrompido  pela  emo¬ 
ção  mútua,  regressando  logo  à  cabine.  Os 
assistentes  cantam  «Almas  Gêmeas»,  en¬ 
quanto  que  se  materializa  Nina  Arneira, 


que  vem  fazer  passes  na  nossa  confrade 
Lais,  aparecendo,  concomitantemente,  tam¬ 
bém  materializado  o  espírito  de  Neuza, 
no  centro  da  cabine  em  plano  superior, 
tocando  quasi  o  teto,  movimentando-se 
como  se  fora  uma  pessoa  da  terra.  Um 
outro  espírito  aparece  então,  materializa¬ 
do,  que  foi  logo  identificado  pelo  de 
«Mãe  Iza»,  dirigindo-se  por  meio  de  pa¬ 
lavras  carinhosas  à  sua  filha,  D.  Marilia 
Barbosa  Machado  e  sua  neta  Ilza  Chaves 
de  Almeida  !  O  José  Grosso  fala-nos  pa¬ 
ra  nos  avisar  de  que  nos  tinha  deixado 
uma  luva  de  parafina,  apresentando  o  mo¬ 
delo  de  uma  das  mãos  e  o  respectivo 
braço,  aparecendo  em  seguida,  do  lado 
direito  da  cabine,  materializado,  com  a 
sua  respeitável  estatura  de  cerca  de  dois 
metros,  escrevendo  versos  nos  papeis  ali 
colocados,  em  branco,  com  as  rubricas 
minha,  do  Vitorino  e  do  Ferreira.  E  en¬ 
quanto  escrevia,  um  foco  de  luz  se  pro¬ 
jetava  sobre  o  seu  vulto,  como  se  fôra 
um  farol  a  projetar-lhe  os  seus  raios  lu¬ 
minosos.  O  autor  dêste  fenômeno  foi  o 
Fidelinho.  O  José  ainda  nos  joga  pedras, 
das  quais  oferece  nominalmente  uma,  a 
menor,  à  D.  Risoleta  e  outra,  a  maior, 
ao  Inácio  e  avisa-nos  de  que  Araci  e  Ba¬ 
tuira  tinham  deixado  dois  sonetos  no  ál¬ 
bum  da  Dulcinha.  Uma  voz  gutural  enér¬ 
gica,  se  ouve.  Era  o  querido  espírito  de 
«André  Luiz»  que  nos  mimoseava  com 
uma  palestra  doutrinária,  orientando-nos 
por  fim,  de  que  deveriamos  encerrar  os 
trabalhos.  O  Ferreira  faz  a  prece  inicial, 
indo  à  cabine  dar  um  passe  magnético 
no  médium,  despertando-o.  Fomos  à  ca¬ 
bine  apanhar  a  luva  que  o  José  nos  ofe¬ 
receu  e  encontramos  os  dois  sonetos  no 
album  da  Dulce,  juntamente  com  os  pa¬ 
peis  contendo  a  mensagem  poética  do  Jo¬ 
sé,  homenageando  a  quasi  todos  os  assis¬ 
tentes,  produções  essas  que  tenho  o  pra¬ 
zer  de  transcrever  linhas  abaixo.  Poucas 
pessoas  se  submeteram  à  prova  da  pesa¬ 
gem  devido  ao  grande  número  de  assis¬ 
tentes  mas,  dos  que  o  fizeram,  constatou- 
se  que  o  Gonçalves  perdeu  três  quilos,  o 
Inácio  1/2  quilo,  o  Perrota  1/2  quilo  e  o 
Peixoto  um  quilo. 

«Para  0  album  da  Dulcinha 

Menina  — moça,  formosa, 

Liberta-te,  da  ilusão  ; 

Procura  o  doce  clarão 

Dessa  vida  esplendorosa. 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


Nessa  idade,  és  uma  rosa, 

Um  jasmin  ainda  em  botão  ; 

PÕe  Jesus  no  coração 
Que  ficarás  perfumosa. 

Que  sejas  sempre  um  encanto 
De  amor  puro  e  sacrosanto 
Para  toda  a  humanidade. 

Trabalha  para  Jesus 
E  com  carinho  conduz 
A  todos  da  tua  idade. 

Do  Batuira» 

«Súplica 

A’  Dulcinha 

Meu  Jesus,  dá-me  o  calor 
Do  Evangelho  da  Verdade, 

Para  que  eu,  com  destemor 
Conquiste  a  felicidade. 

Que  eu  receba  a  luz  do  amor 
Da  divina  Caridade 
E  que,  assim,  possa  transpor 
A  porta  da  eternidade. 

Que  eu  seja  feliz  na  Terra 
E  conquiste  a  paz,  que  encerra. 
Tua  doutrina  de  luz. 

Que  eu,  no  Infinito  azulado, 
Possa  viver  ao  teu  lado 
Oh  !  meu  querido  Jesus. 

Arací» 

Mensagem  de  escrita  diréta 


»Mae  Marilia,  se  as  mulheres 
Compreendessem  a  Verdade, 
Para  seguir  teu  exemplo, 

Da  terra  eu  tinha  saudade. 

Madalena,  continua 
Iluminando  a  idéia 
Fazendo  o  que  fez  a  outra 
Madalena  da  Judéia. 

Emilia,  ampara  os  doentes 
Com  tua  mediunidade, 

Afim  de  que  o  teu  futuro 
Seja  de  felicidade. 


Risoleta,  brevemente 
— Já  tenho  plena  certeza  — 
Irás  substituir  o  »casca».  (i) 

O’  que  grandiosa  surpreza  !... 

O’  minha  irmã  Margarida, 

Da  «Escola  Nina  Arneira», 
Esclarece  os  teus  irmãos 
Nesta  vida  passageira. 

O  Professor,  (2)  aí  presente, 
Estimule  a  mocidade 
A’  conquista,  nesta  vida, 

Da  santa  Luz  da  Verdade. 

O  fotógrafo  (3)  que  aí  está 
P’ra  tirar  fotografia  . . . 

A  minha,  vou  vender  caro 
A  bem  do  Lar  de  Maria  ! 

E  essas  nossas  irmazinhas 
Merecem  versos  também, 
Porque  a  todos  o  Zé  Grosso 
Lhes  deseja  muito  bem. 

Laís — cantora  do  Grupo, 

Que  anima  a  nossa  reunião... 
Que  Fidelinho  ilumine 
Seu  bondoso  coração. 

Lenice,  peço  a  «vancê» 

Que  incentive,  com  bondade, 
P’ra  que  «vancês»  representem 
Em  nossa  Mocidade. 

Amadeu,  é  necessário, 

Para  se  ser  de  Jesus, 

Perdoar  os  inimigos 
Dando  os  exemplos  de  luz. 

Ferreira,  «vancê»  precisa, 

Com  carinho  e  amizade, 
Cultivar  em  Macaé 
Aquela  fraternidade. 

Rodrigo,  para  «vancê». 

Por  ser  meu  amigo  velho, 

Seja  mais  interesseiro 
Pelas  coisas  do  Evangelho. 

Inácio,  «vancê»  receba 
O  meu  pobre  coração  ; 
Precisas  sair  da  dúvida 
Para  sua  salvação. 

facques,  te  chamam  chorão  ! 

E  a  expressão  do  sentimento  ; 
Dos  tempos  desperdiçados 
Tu  tens  arrependimento. 


Por  José  Grosso,  homenageando 
os  visitantes  e  os  componentes  do 
«André  Luiz» : 


241  — 


c 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


-  242  - 


Lu/u,  vens  de  Juiz  de  Fóra 
Trabalhar  pela  Verdade! 
Age  e  vê  se  tu  consegues 
Semear  luz,  fraternidade. 

Magaldi,  «vancê»  veio  'ver 
Sua  filhinha  querida 
Mas  a  emoção  não  deixou 
Ver  a  vida  da  sua  vida  ! 

O  «casca»  hoje  completa 
Um  ano  mais  seu  de  idade ! 
Abracem- no,  vós,  por  mim, 
Com  muita  fraternidade. 


Ilza,  Scheila  lhe  ofertou, 

Pedindo  p’ra  não  ter  medo, 

Uma  quadrinha  bonita 
Na  Fazenda  do  Rochedo. 

Dulcinha ,  teu  «albo»  tem, 

De  nossa  Arací,  uma  prece  ! 

Orando  pede  a  assistência 
Que  o  teu  espírito  carece. 

Para  a  esposa  do  Lulu : 

Lute  com  teu  companheiro, 

Semeando  fraternidade, 

Esse  sonho  hospitaleiro  ! .  . .» 

Rio  de  Janeiro,  i.°  de  Fevereiro  de  1947. 

AMADEU  SANTOS. 


à  Vidas  Sucessivas  Í4 


doutrina  das  vidas  sucessi¬ 
vas,  que  o  Espiritismo  incor¬ 
porou  aos  princípios  de  sua 
filosofia,  era  ensinada  na  an¬ 
tiguidade  pelos  filósofos  e  grandes 
instrutores  da  humanidade  e  consti¬ 
tuía  um  dos  pontos  fundamentais  des¬ 
sas  antigas  filosofias  religiosas,  que 
eram  prègadas  ao  povo,  óra  esotéri¬ 
ca,  óra  exotericame.nte,  de  sorte  que 
não  se  póde  insinuar  que  seja  uma 
doutrina  fundada  pelo  Espiritismo. 

E’  velha,  muito  velha  e  os  mais 
antigos  iniciados  conheciam-na  e  prè- 
gavam  na,  mais  ou  menos  desenvol- 
vidamente,  de  acordo  com  a  época  e 
o  progresso  das  inteligências. 

No  «Bagavad-Gita»,  o  Evange¬ 
lho  da  índia,  Khrishna  assim  se  ex¬ 
prime,  prègando  eloquênie  e  indisfar- 
çavelmente  a  doutrina  reincarnacio- 
nista  :  «Eu  e  vós  tivemos  vários  nas- 
cimentos.  Os  meus  só  são  conheci¬ 
dos  por  mim  ;  mas,  vós  não  conhe¬ 
ceis  os  vossos.  Conquanto  eu  não  se¬ 
ja  mais,  por  minha  natureza,  sujeito  a 
nascer  e  a  morrer,  contudo,  todas  as 
vezes  que  a  virtude  declina  no  mun¬ 
do  e  que  o  vilão  e  a  injustiça  exor¬ 
bitam,  então,  eu  me  torno  vLível  e, 
assim,  me  mostro  de  éra  em  éra  pa¬ 
ra  a  salvação  do  justo,  o  castigo  do 
mau  e  o  restabelecimento  da  verda¬ 
de.  —  Tudo  o  que  nos  sucede  nêste 


mundo  é  a  consequência  dos  atos 
anteriores.  Somos  o  que  pensamos, 
e  os  atos  da  presente  existência  ama¬ 
durecem  numa  vida  futura». 

São  êsses  os  antigos  ensinos  de 
Khrishna  a  propósito  das  vidas  suces¬ 
sivas  e  constantes  do  «Bagavad-Gita». 

De  «Trimegisto»  chega  até  nós 
esta  interèssante  revelação  que  nos 
patenteia  a  face  evolucionista  da  fi¬ 
losofia  palingenésica :  «A  pedra  se 
converte  em  planta,  a  planta  em  ani¬ 
mal,  o  animal  em  homem,  o  homem 
em  espírito,  o  espírito  em  Deus».  Pro¬ 
fundo  e  verdadeiro,  êsse  conceito  da 
vida  imortal  ainda  se  mantém  de  pé. 

Os  velhos  brahmanes  e  budhis- 
tas  ainda  conservam  êste  ensinamen¬ 
to  induísta,  que  vem  atravessando  ge¬ 
rações  sôbre  gerações  :  «A  alma  dor¬ 
me  na  pedra,  vive  na  planta,  move- 
se  no  animal  e  desperta  no  homem». 
E’  o  princípio  inteligente,  é  o  demen¬ 
te  imortal,  independente  da  matéria, 
que,  animando  essas  formas  materiais, 
vai  ascendendo  sempre  para  planos 
cada  vez  mais  elevados.  Êsses  dois 
importantes  ensinamentos  da  filosofia 
induísta  representam,  sem  dúvida,  a 
mais  profunda  e  generalizada  concep¬ 
ção  que  se  póde  ter  da  doutrina  pa¬ 
lingenésica. 

Com  efeito,  porque  aceitar,  co¬ 
mo  dogma,  o  princípio  de  que  só  o 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


243 


homem  tem  alma  ?  Os  demais  seres 
vivos  seriam  apenas  aglomeração  de 
células,  de  elementos  materiais  que 
morrem,  destróem-se  e  se  tornam  pó  ! 

Os  antigos  iniciados  tinham  me¬ 
lhor  concepção  da  imortalidade  e  re¬ 
velam  possuir  mais  profundos  e  mais 
justos  conhecimentos  da  teoria  das 
vidas  sucessivas. 

Muita  razão  tem  certamente  o 
dr.  Inocenzo  Calderone,  diretor  de 
«Filosofia  delia  Scienza»,  quando,  alu¬ 


dindo  à  reincarnação,  escreve  :  «E’ 
uma  lei  de  evolução  do  Sêr  que,  a- 
través  de  etapas  indefinidas  do  seu 
futuro,  acaba  por  atingir  uma  cons¬ 
ciência  pessoal  e  perfeita.» 

Nascemos,  vivemos,  lutamos,  so¬ 
fremos  e  morremos  para  renascer  lo¬ 
go  mais,  em  outro  corpo,  e  fechare¬ 
mos,  depois  de  sucessivos  e  progres¬ 
sivos  renascimentos,  o  ciclo  evolutivo 
dos  nossos  destinos  imortais. 

D j alma  Farias . 


9-  Livros  2  Autores  - 

-  LEOPOLDO  MACHADO  - 


SÍNTESE  DE  O  NOVO  TESTAMEN- 
TO  —  Mimmus,  Rio  de  Janeiro. 

Jesus  afirmou  que  o  fim  só  viria, 
quando  seu  Evangelho  fosse  pregado  por 
todo  o  mundo,  em  testemunho  de  todas 
as  nações. 

Certo  que  não  se  trata  de  uma  afir¬ 
mativa  vã,  por  ser  do  Cristo,  que  advir- 
tiu,  peremptório,  passaria  o  Céu  e  a  Ter¬ 
ra,  menos  suas  palavras. 

A  pregação  do  Evangelho  a  todos 
os  povos  é  que  marcará  o  fim. 

Exigência  pequenina,  na  verdade. 
Poderia  exigir  mais  o  Senhor  :  o  cumpri¬ 
mento  em  atos  e  exemplos  de  seu  Evan¬ 
gelho.  E’  bem  mais  fácil  estudá-lo  e  pre¬ 
gá-lo,  do  que  sentí-lo  e  praticá-lo. 

Afigura- se-nos,  a  partir  da  afirmati¬ 
va  do  Cristo,  que  estamos  tão  longe  do 
fim  !  O  Evangelho  está  muito  longe  de 
ser  pregado  a  Jtodas  as  nações.  Pois,  se 
nem  as  religiões  que  se  dizem  nêle  assen¬ 
tes  o  pregam  !  O  Catolicismo  serve-se 
mais  de  encíclicas  e  pastorais,  deixando-o 
em  plano  secundário.  Secundarissimo  ! 
Prega-o  muito  ao  pé  da  letra  o  Protestan¬ 
tismo,  através  de  suas  milhares  de  seita- 
zinhas.  Nem  assim,  ainda  o  prega  o  Es¬ 
piritismo,  que  não  saiu,  ainda,  nos  países 
estrangeiros,  de  sua  fase  experimental,  fe- 
nomenológica,  metapsíquica.  Se  Allan 
Kardec  ainda  não  é  estudado  e  conheci¬ 
do  em  meios  espíritas  estrangeiros,  como 
nos  Estados  Unidos  e  na  Inglaterra  !  . . 

Só  no  Brasil  é  que  se  vai  fazendo, 
póde-se  dizer,  espiritismo  ajustado  ás  li¬ 
ções  do  Evangelho;  é  que  se  vai  estu¬ 


dando  o  Evangelho  à  luz  do  Espiritismo. 
Assim  mesmo,  o  Evangelho  Segundo  o 
Espiritismo,  que  é,  apenas,  a  súmula  de 
uma  parte  só  do  Evangelho  do  Cristo, 
em  que  o  Codificador  descobre  cinco  as¬ 
pectos  distintíssimos.  Estudado,  mesmo 
assim,  por  todos  os  espíritas?  O  Censo 
último  revelou  468.000  espíritas  no  Brasil. 
Nêste  cômputo,  estão,  naturalmente,  os 
redentoristaSy  para  os  quais  Allan  Kardec 
faz  obsidiados,  e  os  umbandistas,  que  na¬ 
da  leem.  Umbandistas  e  redentoristas  em 
número  maior,  naturalmente,  do  que  kar- 
decistas.  Sabe,  geralmente,  mais  a  dou¬ 
trina  que  não  dá  trabalho  ao  cérebro  e 
não  nos  impõe  o  trabalho  de  nossa  refor¬ 
ma  espiritual  e  moral  . .  . 

Poucos,  portanto,  os  espíritas  que 
estudam  o  Evangelho  do  Cristo.  E  todos 
os  espíritas  deveriam  fazê-lo  em  suas  reu¬ 
niões,  sistematicamente,  uns  10  a  15  mi¬ 
nutos  no  mínimo,  a  exemplo  de  um  cen¬ 
tro  de  nosso  conhecimento. 

Todo  esforço,  portanto,  que  se  fizer 
para  a  maior  difusão  do  Evangelho  do 
Cristo,  à  luz  do  Espiritismo,  é  tarefa  san¬ 
ta,  oportunissima. 

Mormente,  se  fôr  esfôrço  de  molde 
a  transmitir  os  ensinamentos  evangélicos 
em  doses  mínimas,  homoepáticas,  que  pe¬ 
netram,  melhormente,  o  entendimento,  que, 
melhormente,  descem  ao  coração. 

SÍNTESE  DE  O  NOVO  TESTA¬ 
MENTO,  de  Minimus  é  um  esfôrço  as¬ 
sim. 

3  rata-se  de  um  resumo  oportunissi- 
mo  dos  factos  e  das  lições  referentes  ao 
Rabi  da  Galiléia.  Pena  é  que  o  autor  não 


-  244 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


lhe  tenha  emprestado  coordenação  crono¬ 
lógica  de  factos  e  ensinamentos.  Teria, 
assim,  mais  realce,  pois  tomaria  uma  fei¬ 
ção  biográfica  interessantíssima. 

A  preocupação  do  autor,  dí  lo  na 
introdução,  é  resumir  as  passagens  e  os 
ensinos  do  Mestre  em  estudos  compreensí¬ 
veis.  Nós  teriamos  dito,  em  vez  de  com¬ 
preensíveis,  coordenados ,  sintéticos,  que 
compreensíveis  eles  o  são,  de  qualquer 
maneira,  para  os  que  já  têm  olhos  de  ver 
e  inteligência  de  compreender.  Estamos, 
ademais,  com  J.  Stuart,  a  afirmar  que  «o 
Espiritismo  é  a  chave  para  compreender¬ 
mos  muitas  passagens  do  Evangelho».  Se¬ 
riam,  para  tanto,  necessárias  muitas  no¬ 
tas  à  margem,  esclarecedoras.  E’  certo 
que  o  autor  põe,  no  rodapé  de  algumas 
paginas,  notas  esclarecedoras,  chamando 
a  atenção  para  interpretações  que  o  Es¬ 
piritismo  dá  a  muitas  passagens,  diferen¬ 
tes  da  interpretação  protestante  e  católica 
Notas,  porém,  muito  resumidas,  nos  mol¬ 
des  da  obra.  E  todas  aceitáveis.  Menos 
uma,  que  não  abonamos.  A  da  pag.  148 
a  propósiro  desta  passagem  de  Mateus 
(19-28).  Em  verdade  vos  digo  :  vós,  que 
me  seguistes,  quando  na  Regeneração  o 
Filho  do  homem  se  assentar  no  trono  de 
sua  glória,  sentar  vos-ei,  etc...»  A  nota 
põe  Reincarnação  em  lugar  de  Regenera¬ 
ção.  Nós  preferimos  o  termo  Ressurreição , 
no  sentido  da  volta  do  Espírito  à  Vida 
Espiritual,  ressurgido,  portanto,  para  a 
verdadeira  Vida.  Reincarnação,  de  resto, 
supõe  existência  em  mundos-escolas,  em 
planetas  como  o  nosso,  de  provas,  expia¬ 
ção  e  aprendizado.  .  E  o  Cristo  dá  a  en¬ 
tender,  exatamente,  louros  e  glórias  aos 
espíritos  que  souberam  vencer  suas  rein¬ 
carnações  airosamente  .  .  . 

Um  índice  alfabético  bem  posto  e  tᬠ
buas  de  capítulos  e  versículos  de  cada 
evangelho,  á  abertura  do  volume,  facili¬ 
tam  de  rr.uito  o  manuseio  da  obra. 

SÍNTESE  DE  O  NOVO  TESTA¬ 
MENTO  é  leitura  aconselhável,  de  prefe¬ 
rência,  á  juventude  espirita.  Um  volume 
que  deve  ser  estudado  nas  reuniões  ordi¬ 
nárias  das  Juventudes  Espíritas  Organiza¬ 
das ',  ás  quais,  aqui  o  recomendamos  en- 
carecidamente. 

O  livro  é  edição  da  Federação  Es¬ 
pirita  Brasileira 

Agradecemos  o  volume  que  nos 
coube,  oferta  de  seu  autor. 

Só  não  agradecemos  os  termos  ce 
rimoniosos  da  dedicatória  Espíritas  que 


somos,  acostumados  a  tratamentos  frater¬ 
nos,  reveladores  da  cordialidade  cristã, 
feita  a  prezado  irmão  espiritual  e  quejan¬ 
dos,  claro  que  não  podemos  agradecer  o 
o  Exmo.  Sr.  postos  em  dedicatórias  .  . 

Se  somos  irmãos  espirituais  em  Je¬ 
sus,  é  óbvio  que  deve  existir  entre  nós  a 
cordialidade  e  confiança  próprias  de  es¬ 
píritos  que  já  se  compreenderam,  que  vi¬ 
bram  pelo  mesmo  ideal. 

CONFRATERNIZANDO,  Semana 
Espíiita  de  Fiorianopolis—  Vários  autores. 

As  Semanas  Espíritas ,  como  movi¬ 
mentos  de  aproximação  em  nome  do  Cris- 
to  e  por  amor  à  Doutrina,  e  maior  difu¬ 
são  do  Espiritismo,  é  postulado  dos  mais 
caros  de  nossa  Cruzada  do  Espiritismo  de 
Vivos. 

Vemos,  portanto,  com  muita  simpa¬ 
tia  e  maior  interêsse,  as  que  se  realizam 
por  aí  além.  Principalmente,  as  que  se 
realizam  dentro  de  programas  afins  com 
o  nosso  movimento,  visionando  colimat 
os  mesmos  objetivos. 

Foi  este,  o  caso  da  Semana  Espírita 
de  Fiorianopolis,  reali/.ada  em  {946. 

Não  pudemos,  mau  grado  nosso, 
tomar  parte  nela,  diante  do  convite,  gen¬ 
til  e  insistente,  que  recebemos  para  tanto, 

E’co  brilhante  da  Semana  Espírita  de 
Fiorianopolis,  é  o  opúsculo,  CONFRA¬ 
TERNIZANDO,  que  acabamos  de  rece¬ 
ber.  Bem  apresentado  graficamente ;  bôa 
literatura  e  melhor  doutrina  ;  duplo  esfor¬ 
ço  apreciável,  porque  para  confraternizar 
e  conseguir  recursos  para  a  Caixa  de  Pro¬ 
paganda  da  União  Espínta  Discípulo  de 
Jesus,  por  tudo  isso,  trata-se  de  uma  pu¬ 
blicação  merecedora  da  melhor  atençã^, 
de  cuidadosa  leitura. 

São  90  páginas  de  23/16,  com  24 
peças  assinadas  por  vários  nomes  :  os  ir¬ 
mãos  ilustres  que  ocuparam  a  tribuna  dos 
centros  espíritas,  durante  a  Semana.  Pe¬ 
ças  da  autoria  de  Pedro  Lima  Breunsisen, 
Jobel  Sampaio  Cardoso,  Osvaldo  Melo  Fi¬ 
lho,  Asbelina  Dias  Mourão,  Ligia  Brazi- 
nha,  Osvaldo  Melo,  Maria  Cândido  Rau- 
lino,  Aido  João  Nunes,  João  Alfredo  Gon¬ 
çalves,  Arnaldo  S.  Tiago,  Marina  Gon¬ 
çalves,  Osvaldo  Calixto  de  Lima,  Gilber¬ 
to  Doin  Vieira,  Maria  Novais,  e  outros. 

Agradecendo  o  volume  que  nos  cou¬ 
be,  aos  organizadores  da  Semana,  agra¬ 
decemos,  também,  a  Arí  Melo,  ás  refe¬ 
rências  ao  nosso  nome,  à  nossa  atuação 
a  pról  das  Juventudes  Espíritas. 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


—  245  — 


Crônica  Estrangeira 


Senti  estar  morrendo 

«Constância» 

«Em  1915,  quando  a  guerra  mundial 
estava  furiosamente  desencadeada  e  as 
epidemias  aumentavam,  adoeci  de  pneu¬ 
monia  e  tifo.  Com  muita  febre,  fui  trans¬ 
portado  para  o  hospital  militar  de  Pilseu 
(eu  servia  no  regimento  da  região).  Acen¬ 
tuo  de  antemão  que  a  febre  —  ainda  que 
elevada — não  infiuia  negativamente  sôbre 
a  faculdade  de  meu  cérebro  e  que,  o  que 
aconteceu  mais  tarde,  sucedeu  com  mi¬ 
nha  plena  consciência  e  com  perfeita  fun¬ 
ção  cerebral.  Por  isso  eu  mesmo  não 
acreditava  estar  gravemente  enfêrmo.  Mas 
quando  tratei  de  escrever  a  meus  pais, 
apenas  narrar  o  que  sucedeu,  onde  e  co¬ 
mo  estava,  vi,  com  surpresa,  que  nãô  pu¬ 
de  escrever  uma  só  letra,  traçando  mi¬ 
nha  mão  sómente  uma  linha  torcida. 

Verifiquei,  em  razão  dessa  experiên¬ 
cia,  a  gravidade  de  minha  situação. 

Uma  noite  fui  inspirado  (talvez  por 
meu  protetor)  que  dentro  de  dois  dias, 
precisamente  ás  doze  e  meia  da  noite,  eu 
morreria.  De  modo  algum  me  senti  afhto 
por  isso,  pelo  contrário,  feliz  esperava  ês- 
sa  ocasião  e,  tanto  mais,  quanto  mais 
se  aproximava  êsse  momento.  Simultânea¬ 
mente  sentia  estranha  liberação.  Ao  acon¬ 
tecer  isto,  eu  estava  completamente  cons¬ 
ciente.  Sabia  que  hora  era,  tanto  de  dia 
como  de  noite,  ainda  que  não  tivesse  re¬ 
lógio. 

Na  noite  seguinte  me  senti  livre  a 
tal  ponto  de  poder  sentar-me.  Isto  antes 
eu  não  era  capaz  de  o  fazer.  Ocorreu  me 
olhar  para  trás,  para  a  cama.  E  fui  to¬ 
mado  de  surprêsa,  pois  na  cama  estava 
deitado  meu  corpo,  enquanto  que  eu  es¬ 
tava  sentado.  Minhas  pernas  estavam  li¬ 
gadas  ao  corpo,  em  seguida  também  elas 
se  libertaram  lentamente  até  os  pés.  Ale¬ 
gre  aguardava  o  toque  das  doze  e  meia 
da  noite.  Com  minha  vontade  procurava 
acelerar  minha  morte,  mas  em  vão.  Afli¬ 
gia-me  por  não  poder  desencarnar  por 
completo  até  o  momento  determinado  e 
que  não  chegaria  a  tempo. 

Quasi  violentamente  tentava  libertar 
minhas  pernas,  especialmente  quando 


constatei  só  me  faltarem  uns  minutos  pa¬ 
ra  a  hora  fixada  e  que  a  tíbia  ainda  es¬ 
tava  ligada  aos  tornozêlos.  Então  verifi¬ 
quei  que  eram  as  doze  e  meia.  Eu  sabia 
que  a  partir  dêsse  instante  começaria  a 
reencarnar.  Facto  que  profundamente  me 
afligia.  Fui  atraído  de  volta  sôbre  a  ca¬ 
ma  e,  a  partir  dêsse  momento,  começou 
a  realizar-se  lentamente  a  reencarnação. 

Dois  dias  estive  atormentado  pelo 
fracasso  da  morte  (durante  todo  o  tempo 
da  reencarnação)  e,  logo  após  sua  termi¬ 
nação,  fiquei  satisfeito  por  continuar  a 
viver. 

Interessante  e  instrutiva  é  também 
a  circunstância  de,  durante  a  «morte», 
não  ter  pensado  em  meus  pais  nem  em 
meus  irmãozinhos  aos  quais  muito  amava. 

Desde  essa  ocorrência,  cada  vez  que 
verifico  o  rápido  correr  dos  anos  e  o  a- 
proximar-se  do  momento  da  partida,  não 
sinto  mêdo  nem  tristeza.» 

A  «Psychicha  Revue»  comenta  o 
caso  do  seguinte  modo  ; 

«Um  pesquisador  das  cousas  es¬ 
pirituais  sabe  que  não  se  tratava  de 
morte  verdadeira,  como  acreditava  o 
paciente,  mas  sim  de  liberação  parcial 
do  corpo  fluídico,  em  estado  conscien¬ 
te.  Casos  semelhantes  sucedem  a  algu¬ 
mas  pessoas  em  períodos  de  exgota- 
mento  por  enfermidade  ou  outras  causas. 

O  morrer  e  o  liberar  do  corpo  es¬ 
piritual  são  estados  que  se  parecem,  até 
certo  grau.  Ao  morrer,  rompe-se  o- cor¬ 
dão,  ao  contrário,  na  liberação  só  se 
libertam  por  tempo  determinado. 

O  homem  pode  entrar  na  esfera 
espiritual  de  outra  maneira  e  não  só 
pela  morte.  Ao  morrer,  primeiro  se  es¬ 
friam  e  morrem  os  membros  inferiores 
e  o  nosso  eu  se  eleva  e  sai  pela  cabe¬ 
ça.  Assim  descrevem  os  clarividentes  a 
morte,  fundados  sôbre  observação  pró¬ 
pria  e  afirmam  que,  á  medida  que  se 
vai  libertando  o  corpo  espiritual  do 
corpo  físico,  êste  cessa  de  irradiar  e  se 
converte  em  matéria  inerte. 

No  que  morre,  é  a  cabeça  que 
por  mais  tempo  irradia,  e  depois  de  te¬ 
rem  desaparecido  os  últimos  sentidos 
corporais  .  .  . 

.  .  .  Um  investigador  no  campo  das 


-  246 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


ciências  espirituais,  tampouco  se  sur¬ 
preenderia  se  o  paciente  se  houvesse 
liberado  naquele  período,  trasladando- 
se  para  alguma  parte  —  para  seus  entes 
queridos  —  espantando-os  com  sua  apa¬ 
rição  . . 

...Interessante  é  igualmente  a  rea¬ 
lidade  de  as  pessoas  desdobradas  consi¬ 
derarem  vida  e  morte  de  diferente  pon¬ 
to  de  vista,  e  não  como  o  fazem  em 
estado  normal. 

Quando  os  pacientes  estão  desdo¬ 
brados  e  se  lhes  pergunta  a  respeito  de 
seus  corpos,  não  dizem  :  «eu  sou  êste», 
mas  sim  «eu  não  sou  êste»,  isto  é,  o 
corpo. 

Não  nos  surpreende  o  facto  de 
não  quererem  alguns  voltar  ao  corpo, 
porque  em  seu  estado  de  liberação  se 
encontram  comodamente,  leves  e  frescos. 

Tampouco  é  de  estranhar  que  os 
que  passaram  por  tais  experiências,  não 
temam  a  morte,  como  sucedeu  no  ca¬ 
so  dêste  relato. 

E’  preciso  considerar  que  o  nasci¬ 
mento  do  sêr  humano  não  é  casual  (como 
pretendem  os  materialistas  e  pessoas 
não  iniciadas  no  mistério  da  vida  do 
homem)  e  traz  consigo  seu  postulado, 
cujo  cumprimento  é  nosso  sagrado 
mandato.  E  logo  que  o  havermos  cum¬ 
prido,  ser-nos-á  concedido  um  período 
de  descanso,  seguido  de  traslado  ao 
mundo  novo  e  melhor. 

Outro  ensino  nos  fornece  êste 
facto.  E’  impossível  encarar  a  vida  su¬ 
perficialmente,  seus  acontecimentos  de¬ 
vem  ser  julgados  com  sólida  considera¬ 
ção.  A  vida  é,  em  sua  base,  profunda, 
misteriosa  e  exige,  de  nós,  conhecimen¬ 
to  e  consagração  para  que  nos  possa 
revelar  seu  mistério.» 


Nascem  Diretores  Precoces 
na  Itália 

«Constância»  reproduziu  de  «El 
Mundo»  de  20-7-1947. 

Reservamos  nossa  opinião  sobre  os 
meninos  prodígios,  mas  o  telégrafo  nos 
fórça  a  consignar  sua  existência  na  arte 
musical.  A  última  revelação  dessas  preco¬ 
ces  mentalidades  infantis  sucedeu  na  Itᬠ
lia.  Faz  já  alguns  mêses,  assombrou  os 
públicos,  a  crítica  e  os  mais  peritos  com¬ 
positores  da  península,  a  aparição  de  Pie- 
rino  Gamba,  de  14  anos  que  dirigiu  vᬠ
rias  orquestras  em  algumas  capitais  ita¬ 
lianas  suscitando  unânime  entusiasmo.  E 
quando  se  começava  a  olvidar  a  persona¬ 
lidade  do  «fenômeno»,  a  agência  noticio¬ 
sa  Reuter  nos  informa  de  outra  descoberta. 

O  citado  serviço  informativo  #nun- 
ciou,  há  alguns  dias,  da  cidade  do  Vati¬ 
cano,  que  o  Papa  Pio  XII,  recebera  em 
audiência  privada,  o  menino  de  oito  anos, 
Ferruccio  Burco,  cuja  fama  de  diretor 
sinfônico  se  propagava  pelo  norte  do  país. 
O  Papa  conversou  animadamente  com  o 
juvenil  maestro,  e  lhe  declarou  que  tam¬ 
bém  êle  é  amante  da  música  e  ainda  gos¬ 
ta,  de  vez  em  quando,  executar  no  vio¬ 
lino.  Terminou  a  entrevista  presenteando 
o  menino  com  um  belo  rosário  e  pro¬ 
meteu  fazer  o  possível  para  que  dirigisse 
um  concêrto  na  sala  do  Vaticano.  £  eis 
aqui  a  nossa  notícia  da  mencionada  agên¬ 
cia,  transmitida,  ontem,  de  Roma. 

A  população  desta  capital  recebeu 
com  aclamações,  o  menino  prodígio  Fer¬ 
ruccio  Burco,  que  breve  dirigirá  a  or¬ 
questra  sinfônica  do  «Teátro  da  Ópera». 
Esclarece  ademais,  que  o  músico  precoce, 
nascido  em  Milão,  filho  de  aplaudida 
soprano,  e  que  já  dirigiu  vários  concêr- 
tos,  não  só  sente  inclinação  pela  música 
clássica,  mas  também,  como  todos  os  me¬ 
ninos,  gosta  de  doces  e  jogos. 


Os  anais  do  psiquismo  estão  abarrotados  de  factos  comprovativos 
da  sobrevivência  individual.  A  produção  desses  factos,  dos  mais  varia¬ 
dos  e  interessantes  modos,  visa  chamar  a  atenção  dos  homens  para  o 
mais  importante  problema  da  vida  :  o  da  Imortalidade  da  Alma.  Re¬ 
solvido  êste  problema,  os  homens  ficam  aptos  a  solucionar,  com  rela¬ 
tiva  facilidade,  os  demais  problemas,  porque  podem  entender  as  cou¬ 
sas  no  seu  verdadeiro  sentido.  —  L.  B. 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


—  247 


ESPIRITISMO  NO  BRASIL 


]  914,  pelo  inesquecível  batalhador 
Américo  F.  Machado,  desincarna- 
do  em  16  de  Outubro  de  1931. 

E’  pessoa  jurídica,  com  regis¬ 
tro  em  15  de  Julho  de  1915.  Com 
fins  altruísticos  e  cumprindo  um 
dos  dispositivos  es¬ 
tatuais,  a  diretoria 
vigente  fundou  a  Cai¬ 
xa  de  Assistência  aos 
Necessitados,  mante¬ 
nedora  do  Asilo  Es¬ 
pírita  «Luiz  Gonza¬ 
ga»,  em  17  de  Se¬ 
tembro  de  1924.  A 
instituição  vem  fun¬ 
cionando  regularmen¬ 
te,  dando  abrigo,  ca¬ 
ma  e  mesa  para  22 
pessoas,  entre  velhas, 
viuvas  desamparadas 
e  cegos.  Tendo  por 
Séde  própria  do  Cenlro  Espírita  fim  o  estudo  teórico 

«rS.  Luiz  Gonzaga »  e  experimental  do  Es¬ 

piritismo  e  a  propa¬ 
ganda  de  seus  ensi¬ 
namentos,  vem  este 
Centro  executando  o 
seu  programa  de  tra¬ 
balhos  internos,  pre¬ 
sentemente  assim  dis- 
tribuidos  :  aos  do¬ 
mingos,  das  15  ás  16 
horas,  aulas  de  Es¬ 
piritismo  ás  crean- 
ças  ;  das  19  e  30  ás 
20  e  30  horas,  estu¬ 
do  sobre  «A  Grande 
Sintíse»  ;  ás  segun¬ 
das-feiras,  das  19  e 
30  ás  20  e  30  ho¬ 
ras,  comentário  sobre 
«Grandes  e  Pequenos 
Problemas»;  ás  quin¬ 
tas-feiras,  ás  mesmas 


Vista  do  palco,  gêneros,  roupas  feitas, 
cortes  de  vestidos,  camisas  calças,  brin¬ 
quedos,  doces,  etc.  Senhoras  e  senhoritas 
da  Diretoria,  que  auxiliaram  a  distribui¬ 
ção.  í Natal  dos  Pobres  de  1946). 


Centro  Espírita  «S.  Luiz 
Gonzaga» 

Esta  Sociedade  foi  fundada 
em  Itapira,  em  17  de  Setembro  de 


o 


248 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


horas,  explanação 
em  torno  do  «Li¬ 
vro  dos  Espíritos»; 
ás  quartas  e  sex¬ 
tas-feiras,  trabalhos 
práticos  à  noite.  0 
Centro  mantém  u- 
ma  boa  Biblioteca 
de  obras  psíquicas 
para  os  seus  asso¬ 
ciados.  Em  cada 
fim  de  mês  pales¬ 
tra  a  cargo  da  mo¬ 
cidade  espírita.  0 
Natal  de  1946  foi 
muito  concorrido 
em  dádivas,  tanto 
em  dinheiro  como 
em  mercadorias. 


Vista  parcial  do  Salão  superlotado  de  pobres  que 
aguardavam  a  hora  da  distribuição.  (Natal 
dos  Pobres  de  1946  ltapira). 


Mãe  Dita 

Foi  por  ocasião  da  Semana  Espíri¬ 
ta  de  Cruzeiro,  no  Estado  de  S.  Paulo, 
em  Fevereiro  deste  ano,  que  conheci  Bene¬ 
dita  Fernandes.  De  ha  muito  tempo  o  seu 
nome  chegara  aos  meus  ouvidos,  revestido 
de  uma  auréola  de  respeito.  Chegara  mesmo 
a  ler  uma  crônica  de  Leopoldo  Machado 
sobre  a  estimada  irmã,  em  crença,  de  A- 
raçatuba,  enaltecendo-lhe  as  peregrinas 
virtudes.  Sabia  dirigir  ela  uma  instituição 
filantrópica,  obra  gigantesca  erguida  à  cus¬ 
ta  de  sua  fé,  de  seu  devotamento  à  Cau¬ 
sa  do  Bem,  de  seu  amor  e  de  suas  lágri¬ 
mas.  Sua  figura  quasi  exótica  de  preta 
velha  e  feia,  entrou-rne  por  inteiro  na  al¬ 
ma.  Ainda  me  sabe  bem  lembrar  o  ósculo 
que  ela  me  dera  na  face  !  Essa  caricia  sim¬ 
ples  e  natural,  expressando  puro  afeto  fra¬ 
terno,  que  me  honra  tanto  como  me  hon¬ 
ram  os  puros  beijos  .  maternos,  perdura 
serena  e  imaculada  na  retina  do  meu  es¬ 
pírito  !  Suas  mãos  calejadas  e  grosseiras, 
acostumadas  a  acariciar  as  criancinhas  do 
orfanato  que  ela  fundou  e  dirigiu,  afaga¬ 
vam  indistintamente  a  todos  os  seus  ir¬ 
mãos.  Dizia-se  analfabeta  e  não  obstante, 
com  palavra,  para  esflorar  o  Evangelho, 
pregava  com  erudição  e  sentimento,  fa¬ 
zendo  estasiar  enormes  assistências.  Foi  a 


palavra  que  mais  me  comoveu  e  encan¬ 
tou  na  vitoriosa  reunião  dedicada  à  mu¬ 
lher  espírita,  da  referida  Semana.  Todo  o 
seleto  auditório,  aliás,  permaneceu  suspen¬ 
so,  em  estado  de  êxtase,  enquanto  a  que¬ 
rida  e  saudosa  irmã  discorria  sobre  os  en¬ 
sinos  de  Jesus.  Sempre  bem  assistida  e 
inspirada,  quando  doutrinava  fazia  trans¬ 
portar  o  espírito  dos  ouvintes  ás  regiões 
superiores  da  espiritualidade.  Soube-se  que, 
em  virtude  do  seu  inexedível  devotamen¬ 
to  á  causa  do  amparo  ás  crianças  e  aos 
obsedados  dos  departamentos  da  institui¬ 
ção  assistencial  que  presidia  e  que  eram 
as  meninas  dos  seus  olhos,  lhe  viera  o 
apelido  de  Mae  T>ita! 

Verdadeira  mãe  ela  o  foi,  realmen¬ 
te,  dos  orfãos,  dos  pobres  e  dos  doentes 
de  Araçatuba,  tornando-se  estimada  e  res¬ 
peitada  em  toda  zona  do  Noroeste  do 
Brasil  não  só  dos  espiritistas,  mas  dos 
adeptos  de  todas  as  religiões  e  até  dos  des¬ 
crentes  !  A  sua  incultura  nao  lhe  obstava 
profligar  [o  êrro,  a  injustiça  e  a  tirania. 
Provocada  pelos  detratores  do  Espiritis¬ 
mo  a  dar  o  seu  testemunho  de  fé  racio¬ 
cinada,  defendia  a  Doutrina  que  lhe  era 
tudo  na  vida,  com  lógica  e  doçura.  Com 
a  palavra,  jamais  se  excedia.  Antes  pri¬ 
mava  pela  serenidade  embora,  ás  vezes, 
enérgica,  não  contundindo  em  nenhuma 
hipótese.  E  conquanto  grave  e  sizuda 
quando  orava,  muitas  vezes  a  vi  tagare- 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


249  — 


lando  animadamente,  transbordando  em 
franco  bom  humor,  que  contagiava  a  todos. 

Benedita  era  bem  a  figura  de  uma 
autêntica  missionária,  dedicando-se  ao 
amparo  dos  desventurados.  Pobre,  pedia 
aos  mais  aquinhoados  de  fortuna,  para 
distribuir  pelos  mais  necessitados.  O  or¬ 
fanato,  o  sanatório,  a  escola  e  demais  de¬ 
partamentos  que  compõem  a  grande  obra 
de  assistência  social  de  Araçatuba,  são  obra 
sua.  Médium  curador,  aliviou  muitos  so¬ 
frimentos  e  curou  muitas  enfermidades. 
Hoje,  ela  já  pertence  ao  plano  da  vida 
espiritual.  Sua  desincarnação  recente,  foi 
no-la  participada  pelo  querido  confrade 
Vicente  S.  Neto  que,  como  eu,  se  fizera 
um  admirador  das  virtudes  da  querida 
irmã.  Essa  noticia  emocionou-me  bastante, 
pois  que  pretendia  atender-lhe  ao  convi¬ 
te  amável  de  visitar,  oportunamente,  a 
sua  obra  de  Araçatuba.  A  maior  emoção, 
entretanto,  estava-me  reservada  para  a 
noite  de  ontem,  no  «Culto  Doméstico  de 
Scheila»,  no  lar  do  casal  de  confrades  Pau¬ 
lo -Maria  Ieneè,  quando  Mãe  Dita  brin¬ 
dava  os  assistentes  com  uma  mensagem 
psicográfica  que  identifica,  perfeitamente 
a  comunicante,  pela  sua  lucidez  e  pela 
elevação  de  suas  palavras  carinhosas.  Sua 
mensagem  fez- me  chorar  de  alegria,  de 
comoção  e  saudade  . .  .  Benedita  Fernan¬ 
des  está  viva  na  espiritualidade,  como  vi¬ 
va  permanece  na  memória  e  no  coração 
agradecido  dos  seus  beneficiados,  dos  seus 
confrades,  dos  seus  amigos  e  admiradores. 
Mãe  Dita  continua  a  velar  pelos  seus  ir¬ 
mãos  enfêrmos  e  necessitados  da  Terra. 

Mãe  Dita !  que  o  teu  espírito  con¬ 
tinue,  sereno  e  feliz,  a  irradiar  luz  por 
sobre  todos.  Até  breve.  Mãe  Dita !  .  . . 

oAmadeu  Santos. 

Rio,  14/10/1947. 

Lourenço  Bianchi 

O  nosso  representante  sr.  Lourenço 
Bianchi,  nos  comunicou  que  passou  a  an¬ 
gariar  donativos  para  o  Abrigo  «Pinhei¬ 
ro  Machado»,  de  Novo  Horizonte,  insti¬ 
tuição  esta  que  abriga  elevado  número  de 
menores  e  velhos  desamparados. 

O  confrade  Lourenço  Bianchi,  que 
deverá  percorrer  a  zona  douradense  e 
parte  da  Paulista  nova,  como  nosso  re¬ 
presentante,  está  autorizado  a  reformar  e 
angariar  assinaturas  para  «O  Clarim»  e 


«Revista  Internacional  do  Espiritismo». 

Solicitamos  aos  prezados  confrades 
boa  acolhida  para  êste  trabalhador  da 
seára,  afim  de  que  êle  possa  encontrar  fa¬ 
cilidade  no  desempenho  da  sua  tarefa. 

Notícias  de  São  Paulo 

Homenagem  a  Allan  Kardec 

Realizou-se  no  dia  4  de  Outubro 
último,  no  Salão  Nobre  do  Círculo  Eso¬ 
térico  da  Comunhão  do  Pensamento,  uma 
Grande  Concentração  da  Mocidade  Espí¬ 
rita,  rendendo  justa  homenagem  ao  Codi¬ 
ficador  da  3-a  Revelação. 

Êsse  festival  teve  ainda,  o  objetivo 
de  reunir  os  jovens  espíritas,  em  torno 
dos  postulados  do  Cristo,  em  espírito  e 
verdade. 

O  orador  da  noite,  Dr.  Jonathas  O. 
Fernandes,  Juiz  de  Direito  da  j.a  vara  civil, 
aposentado  ha  dias,  fez  uma  belissima 
dissertação  sobre  a  figura  do  homenagea¬ 
do  e,  no  final  de  seu  sintético  «capo  la- 
voro»,  recebeu  da  avultada  assistência,  u- 
ma  salva  de  palmas  que,  também,  lhe 
foram  tributadas  quando  assumiu  a  tri¬ 
buna. 

Antes  e  depois  da  conferência,  uma 
autêntica  parada  de  jovens  artistas,  deli¬ 
ciaram  os  assistentes  com  um  programa 
maravilhoso  de  música  fina  e  declama- 
ções. 

Nancy  Pulhmann,  Julinha  Thékla, 
Franz  G.  Simon,  Alice  Campos  Melo,  Hil¬ 
da  Siqueira,  Theodomiro  R.  Cunha  (Ne¬ 
né),  Alda  Bertolini,  Celia  J.  Pitt  e  a  no¬ 
tável  jovem  soprano  Ariel  Sampaio,  sob 
o  comando  de  Vicente  S.  Neto  «crooner», 
foram  aplaudidos  delirantemente,  fazendo 
jús  ás  palmas  recebidas,  graças  aos  seus 
números  de  arte,  bisados  constantemente. 

A  presidência  dos  trabalhos  esteve 
a  cargo  do  jornalista  Paulo  Alves  de  Go¬ 
dói,  e  sob  a  supervisão  de  Antonio  Soa¬ 
res  de  Carvalho  e  snrta.  Zenóbia  Prado. 

No  início  da  reunião,  à  meia  luz, 
foi  prestada  significativa  apoteose  a  Jesus, 
sendo  descido  do  palco,  uma  imagem  da 
«Meditação  de  Jesus  no  Horto»,  com  fo¬ 
cos  luminosos. 

A  prece  inicial  foi  proferida  pelo 
Dr.  Julio  de  Abreu,  representante  da  U- 
nião  Social  Espírita,  sendo  executado  nês- 
se  momento,  a  «Ave  Maria»  de  Gonoud, 


-  250 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


em  violoncelo  e  piano,  por  Franz  Simon 
e  Alice  Campos  Melo. 

Um  quadro  de.  Kardec,  todo  orna¬ 
mentado,  brilhava  «à  saciedade»,  e,  ao 
encerrar-se  a  noitada,  a  alegria  dominava 
todos  os  corações.  Aí  ficam  gravados  os 
acontecimentos  mais  relevantes  da  Gran¬ 
de  Homenagem  a  Kardec. 

Vicente  S.  Ifeto. 


União  Social  Espírita 

Com  o  relatório  que  abaixo  transcre¬ 
vemos,  queremos  apresentar  aos  espíritas 
do  Estado  de  São  Paulo  uma  síntese  do 
movimento  da  U.  S.  E.  Analisando  os  re¬ 
sultados  já  obtidos,  os  confrades  poderão 
avaliar  os  esforços  que  temos  empregado 
e  as  lutas  que  teremos  de  enfrentar  para 
que  a  unificação  seja  coroada  de  êxitos. 

Entidades  adesas  até  o  Congresso 

Capital,  170  ;  Interior,  361 ;  Total,  531 ; 

Entidades  adesas  atualmente 

Capital,  215 ;  Interior,  403  ;  Total,  618. 

Entidades  Recenceadas 

Capital,  108  ;  Interior,  278  ;  Total,  385. 
Total  de  Espíritas  recenseados  até  o  mo¬ 
mento  60.000;  Uniões  Municipais  forma¬ 
das,  16  ;  Nomes  indicados  para  delegados 
distritais  33;  Nomes  indicados  para  Mem¬ 
bros  Regionais  do  Conselho,  203. 

Entidades  que  efetuaram  pagamentos 

Capital,  19  ;  Interior,  42  ;  Total,  61. 

Mediantè  a  exposição  feita,  do  mo¬ 
vimento  até  o  presente  momento,  a  U. 


S.  E.  solicita  de  todos  os  confrades  do 
Estado,  o  seu  decisivo  apoio  para  que  a 
unificação  da  família  espírita  seja  concluí¬ 
da  em  bases  sólidas  e  em  um  futuro  bem 
próximo.  Este  movimento,  como  é  sabi¬ 
do  por  todos  os  confrades,  é  um  traba¬ 
lho  coletivo,  onde  todos  teem  o  dever  de 
zelar  por  uma  parte  a  fim  de  que  a  obra 
seja  um  legitimo  patrimônio  dos  espíritas. 

Uniões  Municipais  já  formadas 

As  Uniões  Municipais  já  formadas 
são  as  seguintes  :  —  Bauru,  Jacareí,  Soro¬ 
caba,  Itapira,  Porto  Feliz,  S.  José  dos 
Campos,  Marilia,  Ribeirão  Preto,  Catan- 
duva,  São  Roque,  Jaú,  Taubaté,  Tupan, 
Mogi  das  Cruzes,  Ourinhos  e  Pindamo- 
nhangaba. 

A  U.  S.  E.  pede  aos  confrades  que 
instalaram  as  Uniões  Municipais  em  suas 
cidades,  que  nos  auxiliem  com  sua  valio¬ 
sa  colaboração  visitando  as  cidades  visi- 
nhas  e  incentivando  os  centros  a  forma¬ 
rem  o  mais  depressa  possível  as  uniões 
que  deverão  tomar  a  incumbência  de 
orientar  e  metodisar  a  prática  da  doutri¬ 
na  nos  recantos  mais  afastados  do  Estado. 


«Constância» 

Comemorando  o  primeiro  centenᬠ
rio  do  nascimento  de  Cosme  Marino,  o 
Kardec  Argentino,  a  nossa  brilhante  co¬ 
lega,  «Constância»,  que  se  publica  em 
Buenos  Aires,  dedicou  a  sua  edição  de 
Outubro  último  a  êsse  ilustre  pioneiro 
do  Espiritismo  na  Argentina,  circulando 
com  mais  de  140  páginas,  enriquecidas 
com  artigos  dos  espíritas  de  mais  evidên¬ 
cia  no  Continente  Americano. 

A’s  justas  homenagens  que  «Cons¬ 
tância»  rendeu  ao  iluminado  espírito  de 
Cosme  Marino,  juntamos  as  nossas,  num 
culto  de  grande  estima  e  consideração. 


TRANSFERÊNCIA  DE  ASSINATURAS 


Pedimos  aos  nossos  assinantes  que  desejarem  transferir  suas  assinaturas  para  novo 
endereço ,  0  obséquio  de  nos  mandar  com  toda  clareza  0  seguinte  : 

1)  nome  por  extenso  ;  2)  0  antigo  endereço ;  j)  0  novo  endereço,  para  onde  a 
Revista  deve  ser  enviada. 


I 


Renista  Internacional 
— |=|  do  Espiritismo 

REVISTA  MENSAL  DE  ESTUDOS  ANÍMICOS  2  ESPÍRITAS 

Diretor :  José  da  Costa  Filho  — - "  Kedator  :  A  Watson  Campêlo 

Reòação  e  Fiòministração 

MrtIÃO  -  E.  DE  S.  PftUtO  -  BRMSIE. 


A  Revista  Internacional  do  Espiritismo  está  em  comunicação  com 
as  principais  revistas  européas,  em  vista  do  que,  além  dos  artigos  de  fundo  dos 
seus  colaboradores,  publica  os  relatos  dos  jornaes  de  além  mar,  dá  conta 
das  conferencias,  dos  congressos,  e  na  sua  Crônica  Estrangeira  e  E  cos  e 
Notícias,  deixa  os  leitores  ao  par  de  todos  os  tactos  e  novidades  Anímicos  e 
Espíritas  ocorridos  no  mundo  inteiro.  A  Revista  aparece  regular¬ 
mente  a  15  de  cada  mês,  com  32  a  40  páginas  de  acordo 
com  a  matéria  de  urgência,  utilidade  e 
atualidade. 


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